Khajuraho é um vilarejo meio perdido no estado indiano Madhya Pradesh. Fica a umas 10 horas de comboio de Delhi ou a umas 15 horas de autocarro de Varanasi. Por sorte há também avião em alguns dias da semana, o que encurta a viagem para cerca de 1 hora. E a verdade é que a simples possibilidade de podermos lá chegar é ela a grande sorte. Se lá chegarmos, então, é a taluda em versão kama sutra. Os pensamentos do demo que os hindus tornaram explícitos sob a forma de escultura foram mantidos afastados dos olhares e sentidos do mundo por muitos séculos, não só pelo isolamento de Khajuraho, mas também pela invasão da floresta.
Apesar de
existirem registos de que o viajante Ibn Batuta visitou Khajuraho em 1335 e
disso deu relato nas suas memórias, apenas no século XIX, quando um oficial britânico deu com dezenas de templos, é que o mundo moderno tomou conhecimento das obras de arte
que a dinastia Chandela se dedicou a erigir por volta dos anos 950 a 1050. Esta
história é parecida com a de Angkor, no Camboja, onde existem também templos hindus (e budistas), mas estes às centenas quer em número quer espalhados em kms.
Sem querer voltar a Angkor, direi apenas que os templos de Khajuraho não devem nada àqueles no que diz respeito a
elegância e fineza nos pormenores
decorativos.
Estes 25
templos que chegaram aos dias de hoje (seriam 85), dispersos entre si cerca de
5 kms, são um magnífico exemplo da arquitectura Indo-Ariana. Estão divididos em três
grupos, sendo
o ocidental o mais famoso e interessante. Todavia, começámos o nosso périplo pelos templos do grupo
oriental e sul.
Outro templo do grupo oriental que merece destaque é o templo jainista de Parsvanath. É belíssimo, numa escala menor dos do grupo ocidental, mas com todas as figuras que aí são retratadas. O seu interior é igualmente fascinante.
No grupo sul, de destacar o templo Duladeo. Longe de ser o mais fino e delicado, este templo mais recente tem, no entanto, retratadas à exaustão cenas eróticas absolutamente picantes. Devo dizer, todavia, que não nos conseguimos concentrar inteiramente nos detalhes das esculturas pois um simpático velhinho hindu desdentado insistia em nos explicar de forma muito explícita, com gestos e sons, as cenas que desejava que nós víssemos, apontando para o templo.
O grupo ocidental alberga 11 templos distantes entre si não mais de 500 metros. Destes, dois destacam-se por serem os mais grandiosos e graciosos. O de Lakshmana, dedicado a Vishnu, é o mais picante de todos, mais ainda, com havíamos de descobrir, que o de Duladeo, com cenas eróticas que para além de muita ginástica metem também cavalos. Para não dizermos que os Chandela só pensavam em sexo, existem ainda muitas cenas de guerreiros e batalhas. E para desviarmos completamente a nossa mente e olhar destas cenas badalhocas e violentas, dizer ainda que existem esculturas lindíssimas e perfeitas de elefantes.
Mas a perfeição pretendeu ser atingida com a criação do templo Kandariya-Mahadev, o maior e o mais representativo da arquitectura da dinastia Chandela. E, na realidade, este templo dedicado a Shiva é geometricamente perfeito e conseguiu superar os outros. Equilibrado e harmonioso, tem cerca de 30 metros de altura e balcões lindos como quase todos os outros templos. É aqui, todavia que encontramos as cenas mais bonitas dedicadas à beleza da mulher, para além de muita acrobacia e a, provavelmente, imagem de sexo mais famosa de toda a Khajuraho.
Os templos deste grupo ocidental formam um conjunto arquitectónico e artístico harmonioso e magistralmente acompanhado por um espaço de jardim muito bem cuidado.
Apesar de as cenas e pormenores se irem repetindo, e os próprios templos não variarem muito no seu exterior, a sua beleza e delicadeza salva qualquer enfado. Imperdível esta maravilha à distância de um voo de Delhi a poucas dezenas de euros.