De Agra para Delhi seguimos de comboio. Que era fácil comprar bilhetes na estacão, diziam, estavam sempre a sair comboios para lá. Compramos o único bilhete que nos venderam, um bilhete geral por 62 rupias, qualquer coisa como 90 cêntimos de euro, e disseram que fizéssemos um upgrade não sei onde com não sei quem. Quem vendeu o bilhete disse que o próximo comboio para Delhi seria às 15:00, um fulano à entrada da estacão disse ser às 16:00 e os oficiais de serviço informaram categoricamente que era às 17:00. Fosse como fosse, ainda não eram 14:30 e não havia como matar o tempo. Nem tínhamos nenhum pano tipo sari para estender sobre o chão, como as locais fazem. Cadeiras ocupadas, restou-nos sentar num género de banco e deixarmo-nos estar ali a observar. A lixeira e os sacos deixados na linha. Os cidadãos, de todos os géneros e idades e com todo o tipo de bagagem, a passar para as plataformas pela linha; mesmo com uma das linhas ocupada pelo comboio eles passavam por baixo das carruagens.
É aqui, neste momento de inevitável contacto com o cidadão
comum (que não pretendemos que não exista nas nossas viagens) que vemos como as nossas
culturas estão tão distantes. A noção de perigo e respeito pelo
ambiente não existe. Assim como não parece existir pudor no que toda a satisfazer as
necessidades fisiológicas de cada um. Em nenhum
outro lugar ou momento vimos tantas pilinhas e rabinhos ao léu. Num momento o rapaz está
a segurar o seu material para fazer uma mijinha e logo de sacudida nos está a indicar com a mesma mão
o seu autoriquexó.
Sim, a Índia que vimos é suja. Sim, alguns muitos
indianos têm hábitos que nos repugnam, mas cuspir constantemente talvez não caia mal a muitos dos nossos compatriotas.
Então porquê visitar a Índia? Porque tem edifícios fabulosos, sim. Rituais
dignos de serem observados, sim. Uma comida deliciosa, passados uns dias de
adaptação. E também porque tem rapazes e raparigas lindíssimos, com traços finos, simpáticos e comunicativos. Curiosos, sempre. E raros são os que cheiram mal, assim como as ruas cheiram mal apenas
quando a ocupam com bosta das vaquinhas sagradas.
Toda uma
outra cultura a respeitar e com que conviver sem preconceitos.