sábado, fevereiro 16, 2013

Solteiras em Macau

Por piada, aqui vão alguns epítetos para as solteiras de Macau, retirados do conto "O casamento de Pak-Lin" do livro "A Chinesinha" de Maria Pacheco Borges.
- Donzela velha;
- Resto de canas doces vendidas;
- Laranja rejeitada no fundão da canastra.

Macau e o Jogo

E já que estamos numa onde de Macau vista na poesia, aqui vai esta um bocado mais crua de Yi Lin, presente numa antologia reunida por Li Guanding em 2007.

"O jogo é a maior indústria de Macau
O governo é o maior accionista dela (nem é preciso fazer registo comercial)
A sociedade é o maior banqueiro (em nome do patriotismo)
As seitas são donas dos salões do casino (têm numerosos negócios filiados)
Nós é que somos a maior ficha emprestada para ser apostada"

Macau por Auden

Sobre Macau o escritor inglês W.H.Auden diz no seu poema "Macao":

"Uma excentricidade de Portugal e da China".

domingo, fevereiro 10, 2013

Guangzhou

Pouco mais de meio dia em Guangzhou pode não ter dado para conhecer ou entender a cidade, mas deu para uma constatação: esta China moderna e urbana é cheia de contradições. E, na minha opinião, estas contradições desta nova China mais não fazem do que resumirem-se a uma ideia: de que no mundo há espaço para todos no mesmo espaço.

Saídas da estacão de comboio, depois de uma agradável viagem desde Hong Kong, por onde vamos passando por uma dupla paisagem - construções novas juntamente com casinhas de beira rio - damos logo de caras com o novíssimo e moderníssimo metro da Cidade. Guangzhou recebeu os Jogos Asiáticos de 2010 e com isso como pretexto acabou por modernizar-se. No entanto, é curioso verificar que as contradições começam logo aqui: num metro ultramoderno, que liga uma grande extensão da cidade, o sistema de pagamento é feito através de umas chapinhas plásticas que parecem do século passado.

Como tínhamos pouco tempo, e o metro dava a possibilidade de chegar a muitos dos locais interessantes, optámos por viajar quase sempre nele. Ou seja, debaixo das ruas da cidade onde a vida se realiza. Com isso, ficou ainda mais prejudicada a percepção da cidade. Não obstante, deu para perceber que as pessoas que utilizam o metro não possuem um ar muito sofisticado. Uma população jovem, a caminho de uma ocidentalização no vestir, mas ainda umas décadas atrasada no que à moda diz respeito, ou deverei optar pelo clássico "gostos não se discutem"?


A primeira paragem foi na Nova Cidade de Zhujiang, uma nova centralidade em Guangzhou surgida há pouco mais de uma mão cheia de anos e já com edifícios icónicos como a Torre de Cantão. Este edifício mais a sua antena possui cerca de 600 metros de altura, todo ele intrincado de elegância junto ao Rio das Pérolas.



Já disse que o meu objectivo era ver o Guangzhou Opera House da Zaha Hadid. Mas qual não foi a minha estupefacção quando subo à terra vinda do metro e deparo-me com uma praça imensa cheia de edifícios de uma arquitectura cuidada e arranjos exteriores apelativos aos nossos sentidos, com a dita Torre de Cantão como observatório de toda esta revolução num espaço que agora se tornou nobre. Ou seja, afinal a Opera House da Zaha é apenas um mero figurante entre a Torre de Cantão, o Museu de Guangdong, a Biblioteca de Guangzhou e as Torres Gémeas de Guangzhou (por enquanto ainda uma só). E, afinal, só nesta área imensa, mas apenas uma pequeníssima parte de Guangzhou, era merecedora de um dia inteiro. Resultado: como queria mesmo ver com atenção todos os contornos e formas do edifício da Zaha, percorrendo todo o seu exterior, acabámos por perder aqui umas horitas do nosso dia.


 


Daqui seguimos para o Museu e Mausoléu do Rei Nanyue, o qual nos mostra o túmulo deste rei que governou por volta do longínquo século II a.C durante a dinastia Han. Para além do túmulo e dos artefactos encontrados junto a ele, o edifício do museu é também ele digno de se ver. O túmulo foi encontrado no principio dos anos 80 do século passado e o museu constituído no final dessa década. É desde aí muito elogiado e considerado um dos melhores museus chineses. Faz lembrar o museu (também em cor de tijolo) e os túmulos do Senhor de Sipan, no Peru, embora pense que os túmulos sul americanos sejam muito mais interessantes.



A próxima paragem, desta vez depois de uns minutos de táxi, foi o Templo das Seis Árvores Banyan, conjunto budista datado de 537. Simplesmente fantástico. São vários templos com estátuas do Buda, entre elas do Buda sorridente. Mas o que mais delicia é a Pagoda Florida, ali no centro, logo uns passos após a entrada. Esta construção de 1097 é belíssima e só dá vontade de ficar ali a olhá-la majestosa. E eu fiquei. Até porque algum local meteu uns papéis nas mãos da minha mãe e levou-a para dentro de um dos templos para assistir à cerimónia. E a mamã lá foi ficando, não me restando a mim outra solução se não esperá-la contemplando saborosamente esta Pagoda.   



Ora bem. Até aqui tínhamos tido experiências, pode dizer-se, de diferentes épocas em Guangzhou. Começámos com o metro dos nossos tempos, seguido da arquitectura futurista, um pouco mais para trás para a arquitectura dos anos 80 do mausoléu e por fim nos templos de mais de mil anos. Havia de se seguir uma visita à Catedral do Sagrado Coração, precisamente no coração da cidade velha de Guangzhou, construção esta do século XIX, influência ocidental no sul da China em consequência das derrotas autóctones às mãos dos estrangeiros.

 

Terminámos, assim, o dia no centro da cidade velha. Confusa, barulhenta, ruas ocupadas por pessoas e objectos de venda ou transporte. Os adereços vermelhos dominavam. Nem sei bem por onde andámos, queria ir para a Ilha de Shamian com os seus edifícios coloniais mas já era tarde.

Ou seja, depois de ter observado o modernismo dos seus edifícios, com alguns dos melhores arquitectos a trabalharem na cidade capaz de celebrar grandes eventos, ao mesmo tempo, não muito longe dali, na mesmíssima cidade, passei a observar um comércio feito de rua e de produtos que diríamos ultrapassados. Mais, nem parecem destinados às mesmas pessoas, aos mesmos chineses. Lado a lado com um centro comercial só de calçado barato de todo o tipo há uma loja foleira de malas vendidas a milhares de euros. A cidade velha estava completamente em obras e por isso foi ainda mais difícil compreendê-la.

Num balanço final da estadia curtíssima em Guangzhou, dizer que falhámos muito. Fico com pena de não ter espreitado o Rio das Pérolas e caminhado pelas ruas que prevejo calmas da ilha de Shamian ou as mais intensas ruas pedonais como Shangxiajiu. Muito mais haveria para ver. Mas o bom das cidades desta nova China é que muito melhor haverá para ver.

Porquê Guangzhou


Na viagem para Hong Kong dispunha de 6 dias inteirinhos para passear. Dava para os usar todos nas ilhas e parte continental de Hong Kong e mesmo assim ficaria longe de conhecer sequer perto de tudo. E, depois, havia Macau ali a 1 hora de distância. Menos um dia. E, para atiçar ainda mais a concorrência, a China também estava a 1 hora de distância.

A ida à China foi, pois, decidida após muita ponderação do que ficaria por ver em Hong Kong.

Com Shenzhen, uma zona económica especial que no principio dos anos 80 possuía cerca de 300 mil habitantes e hoje tem mais de 10 milhões (!), excluída do meu itinerário uma vez que o grande propósito para se visitar esta cidade a apenas 40 minutos do centro de Hong Kong são as compras, virei-me para a mais histórica Guangzhou, mais conhecida como Cantão. Em Dezembro de 2012 estava a 2 horas de comboio de distância de Hong Kong; com a evolução dos comboios na China, cada vez mais parecidos com foguetões, muito em breve a jornada far-se-á em pouco mais de 1 hora.

Contraditoriamente, embora reconhecendo a sua característica histórica, de cidade no Rio das Pérolas que foi objecto de um comércio vibrante ao longo dos séculos, o que me fez optar por Guangzhou foi uma iraquiana tornada inglesa que projectou o novo edifício da ópera na cidade. Zaha Hadid de seu nome.

E foi precisamente por aqui que iniciei o meu curtíssimo périplo por uma ínfima parte de Guangzhou.

 

sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Avenue of Stars


Lembro-me desde há muito de Hong Kong despertar paixões por, pelo menos, dois factores: a loucura do seu anterior aeroporto nos simuladores de voo (jogos) e o seu cinema.

Em Tsim Sha Tsui, Kowloon, existe a Avenida das Estrelas, dedicada aos seus actores, realizadores e relacionados. Lá os maiores têm a sua estrela e a nós, fãs, resta-nos colocar a nossa mãozinha no espaço dos deuses.
 
 
Não esquecer que a indústria do cinema de Hong Kong chegou a ser a terceira maior do mundo, logo atrás de Hollywood e Bollywood, e é desde sempre objecto de culto. Seja pelos filmes de artes marciais, seja pelo melodrama de Wong Kar-wai (apesar de o cinema de Hong Kong ter começado a ser forte muito antes destes dois).

Bruce Lee e Jackie Chan tornaram-no extremamente popular.


No entanto, a mim agrada-me a acção de Johnnie To, com as tríades e as ruas menos centrais de Kowloon representadas no seu cinema, como em The Mission, ou o belíssimo Sparrow, sobre um grupo de carteiristas que mais parece bailar enquanto rouba.

E agrada-me um pouquinho mais Wong Kar-wai. São tantos os filmes superiores que fez que vou destacar apenas o Chungking Express porque será o que melhor representa Hong Kong e sua confusão, voltas e mais voltas em ambiente nocturno.

E, depois, há ainda Ann Hui, ainda muito desconhecida por mim, mas essa falha será colmatada em breve.

sábado, fevereiro 02, 2013

Templo Wong Tai Sin


O Templo de Sik Sik Yuen Wong Tai Sin pode ser considerado de tudo menos sereno. Pelo contrário, o ajuntamento de crentes ou meros curiosos, faz dele uma confusão de gente e sons. E, sobretudo, uma confusão visual. Como escreve o guia Lonely Planet, é uma explosão de cores nos seus pilares, telhados, flores e incenso.




A este templo taoista, mas com influências confucionistas e budistas, vem gente de todos os estratos da sociedade de Hong Kong, fazendo-se acompanhar de oferendas como frutas e outros alimentos para as suas divindades. Acendem os seus pauzinhos da sorte e rezam.
 

Convento de Freiras Chi Lin



O Convento de Freiras Chi Lin, em Diamond Hill, Kowloon, é um recanto de beleza e tranquilidade rodeado por prédios imensos.
 


 
É um complexo budista que foi reconstruído totalmente em 1998 no estilo da dinastia Tang que reinou na China entre os séculos VII e X. Mas mais do que um mero pastiche, é com um sentimento de profunda serenidade que percorremos os seus sucessivos pátios e os seus pavilhões de madeira e o seu lago, aqui e ali dando de frente com uns bonsais e umas buganvílias.  

Dentro dos pavilhões vemos estátuas reluzentes e enormes dos bodhisatvas e outras divindades budistas.



Kowloon


Kowloon é parte continental dos territórios de Hong Kong.

Nos últimos anos tem tido um crescimento enorme e já vai rivalizando com a ilha no que a  arranha céus diz respeito. De tal forma que o edifício mais alto de Hong Kong fica aqui. É o International Commerce Centre, tem 484 metros de altura e é o quinto edifício mais alto do mundo.
 
 
Mas há mais edifícios que se destacam na paisagem, como o One Peking Road, baixote para os padrões locais, ou a mega construção do Centro Cultural de Hong Kong, cujas escadarias são boas para tirar fotografias de noivos. Houve polémica com a sua entrada em cena, principalmente por ter vindo ocupar uma zona tão nobre como Tsim Cha Tsui e sua promenade com vista de luxo para o skyline de Hong Kong, ficando assim a ser vizinho da histórica Torre do Relógio.


Nem assim, conseguiram retirar as atenções do vizinho hotel The Peninsula, ainda hoje um dos mais glamourosos da Ásia. Esta zona tem uns quantos hotéis luxuosos, a condizer com a vista que proporcionam, só acessíveis a uns quantos.



Mas Kowloon é muito mais do que edifícios.

É, sobretudo, o lugar da vista. Seja percorrendo a Avenida das Estrelas, com Bruce Lee como guardião do skyline de Hong Kong, seja atravessando o Porto Victoria a bordo do Star Ferry. Todas as noites, às 20:00, na promenade de Tsim Sha Tsui, há um espectáculo a que chamam "Sinfonia das Luzes", misto de show pirotécnico com música. Não se pode perdê-lo, mas é bom não criar grandes expectativas, pois tirando a vista nocturna, este "espectáculo" tem pelo menos 15 dos seus 20 minutos a mais.

Este é também o local para se comprar de tudo. Sejam grandes marcas sejam os produtos aldrabados. Mas é lugar também para compras de meio termo.


Caminhando Nathan Road acima encontramos as lojas de marca acessíveis ao bolso médio. Entrando pelo bairro de Yau Ma Tei, as suas ruas laterais são tomadas pelos inúmeros mercados, sendo o mais conhecido o Temple Street Night. Dizem que aqui se encontra de tudo, mas, seguindo uma tradição longa que inclui o Grande Bazar de Istambul, não consegui uma vez mais comprar nada. Para os meus sentidos, as imitações pareceram pindéricas. Os próprios vendedores sabem que estão a vender objectos falsos e fazem questão de o demonstrar na confecção dos objectos.


Achei mais piada à zona de Mong Kok, mais para norte. Aqui temos quarteirões inteiros dedicados ao comércio de uma só actividade. Seja de computadores (ou mais modernamente tablets), aquários e comida para peixinhos, comida e utensílios para cãezinhos, flores. Até um jardim dos pássaros, onde os seus donos os vão passear dentro das suas gaiolas e depois ficam ali ouvindo-os cantar e, por vezes, soltando-os um pouco.



Mais afastado do centro de Kowloon ficam duas atracções que só por si merecem que Hong Kong seja incluída nos nossos itinerários: o Templo de Sik Sik Yuen Wong Tai Sin e o Convento de Freiras Chi Lin (ver postes seguintes)