De seguida, duas propostas de passeio de meio dia desde Taipé.
Um para sul, rumo à selva montanhosa de Wulai, outro para norte rumo à vila piscatória colonial de Tamsui.
A manhã é boa para se passar em Wulai, a cerca de 40 minutos de autocarro desde a estação do MTR de Xindian.
Sobe-se a bom subir e curva-se a bom curvar, mas nem por isso se deixa de ver uma série de ciclistas no caminho.
Pensei, então, que o clima de montanha devia ser mais fresco aqui, apesar da pouca distância de Taipé. Qual quê. A humidade continua brutal e nem a muita sombra oferecida pela intensa vegetação nos salva.
Salva a paisagem, no entanto.
O relevo é extremamente acidentado e as montanhas carregadas de verde erguem-se abruptamente mesmo ali ao nosso lado.
A vila de Wulai, em si, não tem nada de especial. Terra de águas termais, possui alguns hotéis dedicados ao ramo, uma rua carregada de comércio e comida de rua. Não devemos perder a comida aborígene. A tribo Atayal, a terceira maior da ilha, tem aqui o seu território.
Mas as pessoas vêm a Wulai sobretudo pela natureza. É uma zona ideal para pedalar, caminhar e até nadar. Tem inúmeros trilhos, embora aquele que costuma ligar a zona do rio Jia Jiu Liao Xi ao centro de Wulai estivesse na altura da minha visita encerrado, pelo que tive de fazer este percurso de autocarro. Este rio é estreito e cheio de obstáculos para vencer. Aqui costumam fazer uma modalidade chamada river tracing em que os artistas, devidamente artilhados de fatos e capacetes - protecção essencial -, lá vão galgando o território.
Já junto ao centro de Wulai, a uma caminhada de cerca de 30 minutos enquanto o mini-comboio não retoma as suas viagens, fica uma das grandes atracções da zona: uma cascata altíssima. Não é uma enchurrada de água que corre desde lá do cimo, não nos podemos banhar nas águas do rio de água verde lá no fundo (e que falta fazia um mergulho naquela hora), mas o cenário é fantástico com aquela parede montanhosa impressionante, um pedaço de selva na qual nos vemos imersos.
De volta a Taipé depois do almoço aborígene em Wulai, percorre-se toda a linha vermelha do MTR até chegarmos ao final da sua ala norte. A viagem é agradável até porque grande parte é efectuada à superfície. Aliás, até a espera entre as estações é agradável, uma vez que à chegada dos comboios começa a tocar uma espécie de música celestial, talvez para nos distrair da necessidade de ganhar posição para a entrada na carruagem.
E rapidamente damos por nós em Tamsui, um dos pontos mais a norte de toda a ilha de Taiwan.
Tamsui, literalmente "água fresca", possui uma posição estratégica a norte da ilha no exacto local onde o rio Danshui desagua no Pacífico. Historicamente foi um porto defensivo, onde os espanhóis construíram em 1629 o Forte San Domingo (mais tarde controlado, à vez, por holandeses, chineses, ingleses e japoneses), e uma cidade de comércio, com o rio Danshui a permitir a navegabilidade ilha adentro. Acabou por perder relevância para Taipé, mas a chegada da ligação directa do MTR nos anos 90 faz com que hoje as duas quase se confundam. No fundo, Tamsui acaba por funcionar como uma extensão, um contínuo da capital.
A sua localização não só é estratégica como é bonita. De um lado vê-se o Oceano sem fim, do outro os contornos do centro de Taipé ao longe. À frente de Tamsui, mais uma montanha para não nos esquecermos que Taiwan é isto, mar e montanha, amigos inseparáveis.
Tamsui é uma cidade moderna, cheia de movimento, e os fáceis acessos levam magotes para lá. Nas margens do rio, naquele fim de tarde de um sábado soalheiro parecia que tinha sido montado um arraial, tal era o clima de festa.
Mas Tamsui consegue manter preservados alguns elementos de uma outra era. Do século XIX um nome surge destacado: George Mackay, um missionário canadiano pioneiro na introdução do ensino e da medicina ocidentais na ilha e que aquela que viria a dar origem à primeira universidade de Taiwan, o "Oxford College". Ao redor desta universidade encontramos algumas mansões desse século é um bungallow com uma atmosfera especial e uma vista fantástica.
Hoje Tamsui é sobretudo uma vila piscatória.