Quem vem até Lijiang segue muitas das vezes até ao Tiger Leaping Gorge e depois até Shangri- La. Esta última, anteriormente conhecida como Zhongdian até James Hilton a ter colocado no mapa com o seu livro Horizonte Perdido, fica às portas do Tibete e ficou grandemente destruída após um violento incêndio em 2014 de que vem lentamente recuperando. Não colocamos em hipótese visitá-la nesta nossa viagem, pois era coisa para ocupar uns quantos dias. Quanto ao Tiger Leaping Gorge, pelo contrário, era nossa intenção fazer pelo menos parte do seu trilho, reconhecido como um dos mais fantásticos de toda a Ásia. No entanto, tivemos notícia, já em Lijiang, de que condições atmosféricas recentes levaram a que a estrada que leva até lá estava em reparação pelo que fomos forçadas a mudar de planos.
Assim, junto a Lijiang limitamo-nos a visitar Baisha e Suzhe, duas vilas próximas o suficiente para nos ocuparem um dia inteiro num agradável passeio de bicicleta.
Saindo de manhã rumo à (mais uma vez) encoberta montanha do Dragão de Jade Nevado, ainda distante no horizonte, deixamos Lijiang para trás, cidade ainda pouco confusa no que ao trânsito diz respeito, mas já preparada para o futuro, quer nos muitos prédios que já se avistam na sua periferia quer nas muitas faixas rodagem. As vias rápidas têm sempre uma faixa exclusiva para motociclos e para bicicletas, pelo que andar de bicicleta é seguro.
Baisha fica a cerca de 10 km de Lijiang e é sempre seguir em frente, sem nada que enganar, num caminho plano onde as montanhas têm lugar apenas do nosso lado. O ar rural vai-se fazendo sentir cada vez com mais preponderância.
A pequena vila de Baisha é famosa pelos seus murais de frescos dos séculos XV e XVI pintados por artistas tibetanos, han, naxi e bai, com cenas da vida do budismo e taoismo.
Estes frescos, que podem ser visitados no complexo de tempos de Dabaoji Gong, estão em más condições, a maioria deles de fraca percepção, foram sendo destruídos não só pela acção do tempo mas sobretudo pela acção ideológica do exército vermelho durante a revolução cultural. O sítio vale, no entanto, pela graciosidade dos pavilhões e seus jardins.
E Baisha entrou no mapa do (pouco) turismo ocidental graças ainda a Bruce Chatwin que a tornou famosa ao falar num dos seus artigos do Doutor He, um herbalista local falecido há poucos anos.
O mais interessante em Baisha, porém, é o seu ambiente relaxado e autêntico. Longe da confusão e do frenesim de Lijiang, nesta que já foi a capital do império Naxi. Os naxi são descendentes de tribos nómadas tibetanas. A sua religião é xâmanica e animista. Veneram a natureza e não têm templos (os poucos que vimos são tibetanos). Outra curiosidade da sua cultura é que a sua sociedade é matriarcal. Aliás, quando vieram para esta zona do Yunnan os han tiveram algumas dificuldades em lidar com este aspecto no que respeita à sua tradição de casamentos arranjados. As mulheres naxi, pelo contrário, tinham por costume casar livremente e serem elas a escolher os seus maridos.
Em Baisha é possível visitarmos um instituto onde as meninas aprendem os costumes e tradições locais, um dos quais os bordados, provavelmente a forma mais típica de artesanato.
Outra das características distintivas dos Naxi é o seu sistema de escrita singular. A única linguagem hieroglífica ainda em uso no mundo, com mais de 1000 anos e composta por mais de 1400 hieróglifos, ainda hoje os Naxi se comunicam através desta forma.
A atmosfera e sensação de paragem no tempo será o que mais reteremos desta visita a Baisha.
Recordaremos o saboroso e bem confeccionado peixe que comemos sentadas numas mesas improvisadas à beira da rua, depois de escolhermos o dito peixe e restante refeição numa montra, por entre gestos.
Nesta pequena rua de terra empedrada uns aguardam que o tempo passe, enquanto outros fazem pela vida neste mercado informal.
De volta a Lijiang, um desvio para uma visita a Suzhe. Esta pequena vila, que vem sendo apontada como uma alternativa mais calma à enchente de Lijiang, parece isso mesmo: uma alternativa a Lijiang. Acontece que cópia por cópia, ficamo-nos com o original, certo? Suzhe pareceu-nos algo artificial, boa para cenário de fotografias de casamento, boa para ouvir covers de músicas, boa para reproduzir todas as lojas que já viramos na Dayan de Lijiang. Veredicto: Suzhe não teve, para nós, grande piada e conseguiu ser tão turística quanto a original Lijiang.