Até aqui já deu para ficar com duas impressões, negativas, da cidade.
Uma inesperada: o trânsito louco, não no sentido de longos engarrafamentos (continuo sem saber se existem), mas antes do fraco respeito pelos peões. Confesso que esperava outra atitude por parte dos automobilistas franceses que não a de pura e simplesmente ignorarem e desviarem, in-extremis, das pessoas quando estas já estão na passadeira. Conclusão: em Itália já sabia que era mau, em Portugal fiquei a saber que não é assim tão mau. Dúvida: afinal os franceses não eram os maiores em termos de civismo?
A impressão negativa mas esperada é, obviamente, a quantidade de turistas que se encontram em Paris, principalmente hordas de americanos à procura do tal berço do civismo e cultura.
Daqui decorre que os museus tenham de ser vistos aos encontrões aos colegas de turismo, com súplicas para que se desviem um pouquinho das obras que pretendemos observar em privacidade – eu e Picasso, mais ninguém.
Antes, porém, a manhã havia sido passada nas ilhas, nomeadamente na Ile De La Cité, onde se encontram as imperdíveis Ste-Chapelle e a Catedral de Notre Dame.
A Ste Chapelle, considerada uma obra-prima da arquitectura ocidental, com imensos vitrais coloridos que em dias de sol permitem que os raios penetrem incrivelmente no seu interior, não tinha assim tanta gente que impossibilitasse aos visitantes sentar e contemplá-la. Talvez por o seu acesso ter de ser feito através da entrada no Palácio da Justiça e isso possa afugentar algumas alminhas.
Pelo contrário, uma visita à Notre Dame não permite aos crentes, ou não crentes, qualquer espécie de reflexão espiritual, tal é o corrupio de gente à volta. Para a subida às suas torres (a pé, por uma série de degraus) foi necessária uma espera de cerca de uma hora. Deu para tudo, inclusivamente para saber que 2 australianas se encontram num passeio pela Europa durante 8 meses e uma das próximas paragens será Portugal. Nada mau. Mas como é que fazem com as roupas? E os recuerdos que vão comprando? E as saudades? Mas que complicação!
A vista das torres da Notre Dame vale bem a espera e o desgaste físico. Ainda que não se vislumbre grande beleza natural, é verdadeiramente impressionante a imagem de pássaro com que se fica dos grandes boulevards que desde séculos foram sendo abertos pela cidade.
Da vista impera, tal como já acontecia da Sacré Couer e se verá mais tarde da Torre Eiffel, para além destes dois, o omnipresente Rio Sena – elmento natural que vai recortando a paisagem –, o Centro Pompidou – destaque colorido da paisagem –, os arranha-céus de La Defense e, por último e desta vez o pior, a torre erigida nos anos 70 em Montparnasse para competir em altura com a de Eiffel.
Depois de uma saborosa refeição de escargots, segue-se para o Quartier Latin, com um ambiente universitário, ou não estivesse aí localizada a Sorbonne, povoado de cafés, restaurantes, livrarias. Vida, muita vida, tal como verei mais tarde em Marais.
Ainda naquele bairro, o Instituto do Mundo Arábe procura aproximar o mundo islâmico do mundo ocidental, promovendo a cultura do primeiro. Numa visita breve, como foi o caso, o que fica na memória, porém, é a arquitectura do edifício, obra de Jean Nouvel, nomeadamente as suas paredes de vidro criadas sob um tal efeito que nos dá a imagem das janelas arabescas.
Para terminar o dia, uma ida ao Centro Pompidou, um mundo da cultura de arte moderna. Infeliz ou felizmente, um dos pisos do museu estava fechado. A fadiga talvez não suportasse tanta informação. Mas ainda permitiu concluir o sucesso do Centro junto dos cidadãos, quer pela vasta oferta cultural dentro das suas portas, quer pelo ambiente que se vivia ao seu redor, com músicos e animação de rua, grupos de amigos ou, simplesmente, pessoas sozinhas a relaxar face ao colorido dos tubos do Pompidou.