- Where are you from?
- (silêncio)
- France, Italian?
- (silêncio)
- Spain?
- Não, Portugal!
- Oh! Figo! Cristiano Ronaldo!
9 em cada 10 conversas pelas ruas da Turquia mais ocidentalizada (porque não tive oportunidade ainda de conhecer outra) começam desta forma.
São uns chatos, estes turcos. Não nos largam até conseguirem satistazer a curiosidade de saber de onde vimos. Talvez para escolherem mais acertadamente a táctica para nos convidarem a entrar na sua loja, beber um chá, ver uns tapetes e uns kilims.
Não, nada chatos estes turcos. Se não quisermos comprar, não compramos, é o aviso prévio que nos fazem saber. Temos pelo menos é de dar uma olhada pela sua mercadoria e, mais importante, dar dois dedos de conversa.
Afinal, uns queridos, estes turcos.
Numas das conversas travadas com os turcos – sempre homens, porque os negócios por aqui são coisa deles – o rapaz começou por confessar não aguentar mais a curiosidade de nos ver passar para lá e para cá pela sua rua sem que lhe deitassemos um olhar (à sua loja, entenda-se) ou lhe respondessemos à sua pergunta (where are you from?). Satisfeita a sua curiosidade da proveniência das portuguesas, ficou encantando por obter réplica à afirmação de que a sua cidade natal era Van. Perguntámos-lhe: Van, a do Lago Van? Respondeu-nos: mas conhecem-na, sabem pelo menos onde fica? Sim, apenas sabemos onde fica no mapa, com esperança de em algum momento nesta vida nos aventurarmos Médio Oriente afora. Falou-nos então dos gatos de Van, de pêlo branquinho, com um olho de cada cor (um amarelo, um azul) e de quem se diz que adoram nadar no Lago. Mas Van, tal como a maioria do sudeste da Anatólia, é território Curdo e o rapazinho migrado para a Costa do Egeu, do outro lado do país, não perdeu a oportunidade de “passar a palavra”. Que os Curdos são discriminados no seu próprio país e que, ao contrário do que se diz, não querem a independência da Turquia. Apenas desejam que a esta minoria de cerca de 20 milhões (!) de cidadãos lhes seja concedida a possibilidade de ler jornais e de ver canais de televisão na sua própria linguagem. Que mude a mentalidade dos restantes turcos em relação aos curdos e que mude também a imagem que o resto do mundo deles tem. Quanto a mim, se já não levava preconceitos à partida (e os dias que antecederam a minha viagem foram dominados com notícias de novos atentados em alguns pontos da Turquia), depois de conhecer este simpático comerciante lembrar-me-ei de não permitir que eles possam vir a ser criados. Longe de ficar apoiante da causa, fiquei, sim, ainda mais apoiante de um mundo multicultural.