Não?
Então onde ficam Tróia, Pérgamo, Éfeso, Hierapolis, Afrodisias, Priene, Miletos e Didyma ou Xanthos-Letoon? À beira do Mar Egeu ou do Mar Mediterrâneo, mas todas em território turco.
De Tróia todos nós já ouvimos falar, quer seja pela Ilíada de Homero quer seja, mais recentemente, pelo filme.
De Pérgamo, mesmo que não tenhamos visitado o local na Turquia, se tivermos estado em Berlim temos grandes hipóteses de ter visitado o seu “Grande Altar” em solo alemão. Pelos museus do mundo afora, Alemanha, Inglaterra, Itália, Rússia, não é difícil encontrarmos objectos ou até edifícios inteiros levados destas antigas cidades que, na sua maioria, foram estudadas e escavadas por arqueólogos estrangeiros.
De todas as referidas, apenas visitei Éfeso e Hierapólis, ainda que Afrodisias seja, a par de Éfeso, uma das mais recomendadas para este périplo das pedras.
Uma visita a Éfeso seria, à partida, o ponto alto de qualquer viagem. E não desilude, pese embora a quantidade astronómica de turistas com quem temos que dividir o espaço.
É considerada uma das mais bem conservadas cidades clássicas e uma das quais onde é possível sentir uma atmosfera próxima do que era a vida numa cidade romana daqueles tempos.
Antes da chegada de Lysimachus, um dos generais de Alexandre o Grande, já havia uma cidade onde hoje se encontra Éfeso (estudos dizem-nos que já era ocupada em 1000 A.c. pelos Jónios), mas esta havia sido inundada pela subida do mar. Então, no século III A.c. o general reconstruiu a cidade, trazendo pessoas de cidades anteriormente por si arrasadas e fixando-as na nova Éfeso para que a pudessem povoar.
A cidade foi crescendo a tal ponto que no século I A.c. chegou a ser considerada a capital da Ásia Menor, para o que muito contribuiu o facto de se encontrar situada num local perto do mar, favorável às actividades ligadas ao comércio, e de ter o Templo de Ártemis mesmo à mão, lugar santo dedicado ao culto da deusa Ártemis para os gregos, Diana para os romanos. Éfeso terá mesmo chegado a atingir os 400.000 habitantes, o que a tornou a maior cidade da Ásia Romana e uma das maiores cidades dos seus tempos.



A “Porta de Hércules”, onde todos se amontoam para tirar uma fotografia;
O “Templo de Adriano”, com a cabeça de Medusa no topo de um dos arcos para manter os maus espíritos afastados;
Os “Banhos de Varius”, embora existissem outros complexos deste tipo, uma vez que a cidade tinha um dos mais avançados sistemas de transporte de água (aqueduto) dos tempos antigos;
A “Latrina”, ou seja, as casas de banho públicas, o que mostra bem a preocupação com a higiene que os antigos efesianos possuíam;
A “Fonte de Trajano”;
As casas dos ricos.
Para se visitar estas últimas, no entanto, ter-se-á de adquirir um bilhete à parte, não incluído na entrada geral para o sítio de Éfeso. Com isso afasta-se a esmagadora maioria dos turistas da possibilidade de confirmar os excelentes trabalhos dos técnicos que no local ainda vão pondo a descoberto mais e mais vestígios e recriando as casas antigas. Diz-se que a seguir a Pompeia este é o melhor local para se poder admirar o luxo em que os romanos ricos viviam, com as paredes das suas casas abundantemente decoradas com frescos e o chão com mosaicos. A não perder, uma vez que apesar da longa jornada e do muito que há para visitar e aprender em Éfeso não se encontra nada semelhante a este local.

Concluindo o passeio, fácil é perceber que esta cidade poderia bem competir com as dos tempos modernos, quer em organização quer em riqueza. E a sua riqueza passa não só pelo seu poder a nível monetário mas também a nível social e cultural. A preocupação na construção de banhos para os seus habitantes e, principalmente, a existência de teatros, biblioteca e templos dedicados ao culto dos vários deuses revelam a ambição dos seus líderes e população em cuidar do intelecto e atingir o conhecimento.


Mais uma vez, diz a história que São João terá vindo para Éfeso no fim da sua vida, onde escreveu o seu Evangelho. No século VI o Imperador Justiniano decidiu construir uma Basílica no lugar onde se acreditava encontrar-se os restos mortais de São João e onde no século IV já havia sido construído, primeiro, um monumento e, depois, uma igreja. Tudo o que vemos hoje foi reconstruído (e encontra-se ainda a sê-lo) graças, especialmente, aos inúmeros terramotos.
Um lugar de peregrinação, não só para os cristãos mas também para os muçulmanos, é a “Casa da Virgem Maria”, a cerca de 9 km de Éfeso. Acredita-se que a Virgem Maria tenha vindo para aqui, após a morte de Jesus Cristo, acompanhada por São João. No fim do século XIX, após a visão da Virgem em Éfeso por parte de uma freira alemã, e guiados pelas suas descrições, um grupo de clérigos descobriu as ruínas de uma casa, tendo chegado à conclusão de que nesta teria passado Maria o fim dos seus dias. O Papa Paulo VI autenticou este local na sua visita em 1967 e, depois disso, o Papa João Paulo II e, agora, o Papa Bento XVI também por lá passaram. Hoje existe no topo do monte uma capela para assinalar a história e todo o 15 de Agosto é celebrada uma missa em honra da Virgem Maria, em que acorrem peregrinos vindos de todo o mundo.
Nós é que decidimos não acorrer lá, com muita pena da minha mãezinha, especialmente depois de ver na televisão o actual Papa neste santuário.