terça-feira, dezembro 26, 2006

Lago dos Cisnes


A ver: O Lago dos Cisnes em Lisboa, no Teatro Camões, cortesia da Companhia Nacional de Bailado.
A primeira vez que fui ao bailado foi, precisamente, para ver o Lago dos Cisnes. E fi-lo a turismo.
Passo a explicar. Qualquer visita Moscovo não ficará completa sem uma ida ao ballet ou à ópera. E não existe lugar mais clássico para o fazer se não no mítico Teatro Bolshoi.
Ora, o Lago dos Cisnes, composição musical de Tchaikovsky, foi pela primeira vez apresentado no Bolshoi, em 1877. Parece, por isso, previsível que a nossa escolha tenha recaído nesta obra e neste monumento. Sim, monumento, uma vez que o edifício onde a companhia está sedeada é de uma imponência e, ao mesmo tempo, elegância que respeita toda a tradição cultural russa. Curiosamente, a fachada do nosso Teatro D. Maria II é muito parecida com a do Bolshoi.
No entanto, a compra de bilhetes para se assistir às suas apresentações não se compara em dificuldade. Em Moscovo havia-nos sido sugerido que adquiríssemos os bilhetes num quiosque perto do Teatro. Bem o tentámos, num daqueles com cartazes a decorar os seus vidros, nos quais apenas se reconheciam algumas figuras, uma vez que o alfabeto em cirílico é só para entendidos. Os entraves ao sucesso da nossa missão começaram por se revelar aqui: o que escolher? a que é que estes bonecos correspondem? como se pede um bilhete? porque o sr abana a cabeça? o que querem dizer aquelas palavras e aqueles gestos? não há peças nesta temporada? os bilhetes já se acabaram? temos mesmo que nos dirigir à bilheteira do teatro?
Sim. Tivemos. Mas aqui a história repetiu-se. Daí que não nos restou outra se não a opção que não desejávamos: recorrer aos serviços do hotel, os quais para turistas arranjam sempre bilhetes para o teatro, ballet, ópera ou qualquer outro evento cultural. Detalhe: aqui os preços mais do quadruplicam. Na verdade, até nem parece nada mal que existam preços muito acessíveis para os russos, uma vez que estes sempre fizeram gala e uso do acesso generalizado dos seus cidadãos à cultura. O que não parece nada bem é aproveitarem-se dos legítimos desejos dos turistas em beberem da cultura russa e cobrarem cerca de 45 euros por um lugar no 3.º andar do Teatro e nem sequer acompanharem o mágico bilhete de uns simples binóculos.
Ok.
O ballet foi deslumbrante.
E agora Lisboa.
Cliente recentemente assídua das apresentações da Companhia Nacional de Bailado, o nosso Lago dos Cisnes foi também belíssimo. Mais “moderno”, numa adaptação com final feliz, talvez para ir ao encontro da época natalícia. Assim, a princesa Odete, aquela que foi transformada em cisne pelo barão para que a desviasse do caminho e do amor do príncipe Siegfried, acaba, nesta versão do bailado, por viver feliz para sempre nos braços deste último, cabendo ao mau da fita a morte. Pelo contrário, na versão original o par romântico não tinha um final feliz mas antes trágico.
Destaque nesta apresentação para os cenários – sempre lindíssimos, cheios de cor e vida – e para os bailarinos, a sempre presente Ana Lacerda e o emprestado cubano Carlos Acosta.