Cracóvia não é a maior cidade da Polónia, não é a sua capital, mas provavelmente é a mais amada e carismática.
Sim, carismática.
Para medir o quanto esta cidade é especial escrevo apenas que ainda a percorria num dos três dias que por lá passei e já pensava voltar. No mês seguinte. Não foi. Será seguramente algum dia destes.
A antiga capital real polaca desde 1038 até 1596, quando a corte se mudou para Varsóvia sem deixar de visitar constantemente Cracóvia como lugar de celebrações várias, é personagem de muitas lendas e o passado está presente em cada canto.
O Castelo de Wawel e a Rynek - Praça do Mercado - são dois símbolos históricos não apenas da cidade mas de todo o país. É inevitável amá-los. Lugares surpreendentes e deliciosos, só por eles vale a pena apanhar um avião e deixarmo-nos cair bem no meio da Europa.
Mas muito mais há a descobrir em Cracóvia. Há que fazê-lo sem sofreguidão, chegar com calma à sua estação de comboios e saber esperar para entrar na cidade velha. Percorrer primeiro o Planty, por exemplo.
O Planty é o jardim que circunda o centro de Cracóvia - a cidade velha - como se de um cinto se tratasse, mas um cinto onde apetece sentar num dos seus bancos por baixo da sombra de uma árvore ou, quem sabe, estender uma toalha e receber o sol que nos calhou em sorte.
A cidade era toda muralhada até que no princípio do século XIX um enorme projecto urbanístico foi levado a cabo e a estrutura defensiva - muralhas e fosso - foi substituída por este cordão verde.
Dessa estrutura sobrevivem até hoje alguns elementos como o elegante Barbican, do século XV, e a Porta Florianska, uma das entradas que a cidade de outrora conhecia. Esta Porta, datada do século XIII mas com remodelações posteriores, era a entrada principal da cidade e segue como passagem obrigatória. Daqui, e pela rua de mesmo nome, vamos ter direitinhos à Rinek, sendo este percurso conhecido como Via Real desde esse mesmo século XIII.
No entanto, podemos e devemos desviar desse trajecto directo e percorrer as laterais da cidade velha. Assim depararemos com mais uma dose de elegância materializada no Teatro Slowacki, de 1893, por exemplo.
Cracóvia possui um ambiente distinto, num misto de conhecimento e religião que se sente pulsar por cada rua. São muitas as igrejas na cidade e, curiosamente, vê-se sempre crentes a rezar em cada uma delas. Ela é a igreja de São Francisco (franciscana) a da Sagrada Trindade (dominicana), a de São Pedro e Paulo (jesuíta) e, claro, a igreja da universidade (Santa Ana), a par de muitas outras.
A Universidade de Cracóvia, conhecida como Universidade Jagieollian, foi fundada em 1364 e é a mais antiga da Polónia e uma das mais antigas do mundo. É composta por diversos edifícios junto a um dos lados do Planty que merecem ser visitados, desde o insinuante Collegium Novum, edifício neo-gótico do século XIX que testemunhou a prisão de quase duas centenas de professores e posterior deportação para campos de concentração durante a ocupação alemã na II Guerra Mundial, até ao discreto pátio / jardim com esculturas dos bustos de várias figuras destacadas que passaram pela Universidade, como o Papa João Paulo II.
O ponto alto da Universidade é, porém, o Collegium Maius. Fiquei-me apenas pelo seu pátio e chegou para deslumbrar totalmente. Às suas belas arcadas com portais góticos, bem como ao seu discreto relógio que encima um portal cheio de dourados que contrasta com as paredes preenchidas de blocos pequenos da cor de tijolo há que acrescentar o pormenor dos elementos que fazem a função de escoamento das águas nas caleiras, como o dragão, por exemplo.
Pormenores e mais pormenores é do que se trata não só o Collegium Maius mas toda a cidade velha de Cracóvia. Dai que, não se perde em reforçá-lo, caminhar pelas suas ruas seja tanto uma necessidade como um passatempo. Ambos redundam na descoberta que é constatar como somos felizes em Cracóvia.