sexta-feira, outubro 27, 2017

Tresminas, Ouro em Terras de Aguiar

Se não fosse conselho amigo atirado para o ar por descendente de vizinha de Tresminas não me ocorreria uma visita ao lugar. Mas há tiros certeiros e assim se fica a conhecer lugares inesperados deste nosso mundo. Sim, mundo, porque Tresminas espera vir a ser distinguida como Património da Humanidade pela Unesco. Por enquanto prepara-se para subir à categoria de Monumento Nacional, o que não é pouca coisa.


Situado na Serra da Padrela, no limite este do concelho de Vila Pouca de Aguiar, o Complexo Mineiro Romano de Tresminas é um testemunho histórico, cultural e paisagístico. 

Só chegar a Tresminas vindo das Pedras Salgadas já é todo um programa. Subimos por uma estrada cheia de curvas e mais curvas, cotovelos apertados, pinheiros que carregam intensamente a vegetação. Damos enfim com a estrada principal e um planalto se nos abre. Mas a ruralidade volta a aparecer com pouca demora e os pastos verdejantes com vacas e espigueiros fazem parte da paisagem.

A visita ao Complexo Mineiro começa na aldeia de Tresminas, no seu Centro Interpretativo, um espaço museológico instalado num edifício bem recuperado e adaptado para o efeito que foi a antiga casa paroquial. Aqui é nos dado o enquadramento histórico e arqueológico da área mineira que os romanos entenderam explorar durante os séculos I a III. Nessa essa época, que terá durado cerca de 250 anos, esta foi uma das mais importantes explorações de ouro de todo o Império Romano. A actividade mineira girava à volta da extracção do ouro, sim, mas também da prata e do chumbo.

Feita a introdução histórica, onde vemos alguns vídeos, maquetes, artefactos e ficamos a saber que o ouro aqui extraído terá servido exclusivamente para a cunhagem de moeda, continuamos a nossa visita - sempre acompanhados pela guia do Centro - e saímos para o exterior, uns dois quilómetros afastados da aldeia, para a visita às cortas e à galeria subterrânea.


O curioso desta exploração mineira romana é que era efectuada a céu aberto através do sistema de cortas. Explicando melhor, os vales com configuração de desfiladeiros que hoje vemos na paisagem mais não são do que alterações a essa mesma paisagem provocadas pelo Homem, precisamente cortes nos montes e nas rochas (os veios xistosos) efectuados pelos romanos através dos quais iam extraindo os minérios. 






Existem diversos pontos altos - miradouros - donde podemos observar de forma privilegiada estas cortas, ou seja, estes locais de exploração de minério. 
São elas a Corta de Covas (com 450 metros de comprimento, 120 de largura e 90 de altura), a Corta da Ribeirinha (com 370 metros de comprimento, 160 de largura e 100 de altura) e a Corta de Lagoinhos (com 60 metros de comprimento, 4 de largura e 12 de altura).


Esta exploração estava, porém, também associada a um sistema de galerias e poços subterrâneos que foram escavados na sequência de trabalhos arqueológicos e podem hoje ser visitados. Uma das galerias que visitamos é agora morada de um sem número de espécies de morcegos, pelo que aqui ao interesse pelo património histórico e arqueológico acresce ainda o interesse pela fauna e habitats naturais.


Esta é uma região de granito, mas aqui é o xisto que predomina. E a urze (incrível constatar as parecenças com a distante mas para mim familiar Serra do Açor). Lugar ainda para uma centenária “Silha de Urso”, uma fortaleza de pedra circular do século XVII que servia para proteger a produção do mel do ataque dos ursos, a qual se avista ao longe.


Nos poucos séculos que os romanos aqui estiveram a explorar o ouro trouxeram os seus técnicos especialistas e das aldeias vizinhas vinham os trabalhadores. 
A água possuía uma importância fulcral para que o sistema funcionasse. O rio Tinhela, que hoje em rápida visita não damos por ele, era decisivo para o abastecimento do complexo e os romanos construíram uma rede de canais e até uma barragem para o alimentar. 

Mas o ouro e o restante minério demoravam a ser transportados até ao centro do império e quando os romanos encontraram alternativas de extração mais próximas, nomeadamente no que é hoje a Roménia, abandonaram Tresminas.

Durante 18 séculos este património permaneceu escondido e desconhecido. Até que nos anos 50 do século passado se entendeu ir em busca de alternativas às minas de Jales (donde se extraiu ouro até aos anos 1990) e se deu com as vizinhas minas de Tresminas. Bem preservadas, protegidas pela natureza, a pouco e pouco foi-se percebendo que as explicações que os locais utilizavam para caracterizar o terreno não encontravam eco apenas em lendas e mitos.

Foi, porém, apenas na década de 1980 que as escavações arqueológicas em Tresminas se intensificaram graças a um casal de arqueólogos alemães.

Referir ainda que o topónimo Tresminas nada terá a ver com a ideia de “três minas”, antes derivará do nome medieval “Tresmires”. De qualquer forma, tudo por aqui é inspirador, remotamente inspirador, e convida a que se volte em busca de muito mais surpresas.

quarta-feira, outubro 25, 2017

Água e Pedra em Terras de Aguiar

O concelho de Vila Pouca de Aguiar gosta de se caracterizar como sendo terra de ouro (Tresminas e Jales), de pedra (granito e xisto) e de água (a gaseificada Água das Pedras). 

Falando do ouro em post seguinte, e deixando o seu maior símbolo - as Pedras Salgadas - para uma outra visita, dedicar-me-ei em seguida a outra água e ao granito. Dois desvios breves da estrada nacional que liga Vila Pouca de Aguiar a Vila Real são obrigatórios. 

Um primeiro, para uma visita ao Parque de Lazer Lagoa do Alvão, também conhecido como Barragem da Falperra. 





Este espelho de água é um habitat natural de fauna e flora integrado na Rede Natura. Temos um parque de merendas instalado num denso arvoredo e um trilho pedestre circular que pode ser percorrido ao longo da lagoa. A paisagem que a rodeia é belíssima.

Voltando à estrada nacional no sentido de Vila Real, um segundo desvio que se impõe é para Castelo de Pena de Aguiar. 


Vamos subindo na estrada e avistando lá em cima aquilo que parece uma ruína. 




Antes de o confirmarmos, porém, temos de passar por um túnel de videiras e por umas rochas irreais. Há para aqui um castelo, sabemo-lo, e este é um mundo de fantasia e as pedras são os elementos decorativos ideais.



A paisagem do alto do Castelo é soberba. Alcançamos todo o vale de Aguiar, Serra do Alvão para um lado, Serra da Padrela para o outro, povoação de Castelo de Aguiar a esconder-se atrás da muralha do seu Castelo. 



Este Castelo - confirmamos cá em cima que é mesmo uma ruína, mas uma ruína devidamente escorada - do século X é mais uma ode ao espírito criativo do Homem em parceria com a Natureza: incrivelmente acomodado numa fraga de granito, vai vencendo o tempo e as probabilidades de equilíbrio e lá se vai sustentado séculos após séculos. 

segunda-feira, outubro 23, 2017

Vila Real

Vila Real sempre foi, historicamente, uma região rica, com rios e minas à sua volta. Só para citar dois exemplos, eis o Douro Vinhateiro, reconhecido como património mundial, e Tresminas, património nacional com ambições de alcançar a distinção mundial.

Capital de distrito e a maior cidade de Trás-os-Montes, Vila Real deve o seu nome ao facto de ter sido, precisamente, uma criação do rei. D. Dinis concedeu-lhe foral em 1289 e, diz-se, escolheu pessoalmente o lugar para implantação da nova cidade, tendo esta ficado sob a sua protecção directa.

A sua localização é bonita, num planalto granítico por entre os vales dos rios Corgo e Cabril e as serras do Marão e Alvão.

Avançando uns bons séculos, é inevitável falar-se da vinha e da importância que esta teve para o desenvolvimento da cidade em termos sócio-económicos e arquitectónicos. À volta do negócio da vinha foi-se formando uma comunidade muito empreendedora e rica. Estes nobres e burgueses deixaram alguns belos exemplares da arquitectura fidalga dos séculos XVII e XVIII, sendo a Casa de Mateus o seu maior exemplo. Não tive oportunidade de voltar a visitá-la, para além deste dia chuvoso



Mas desta vez calhou-me um dia soalheiro por Vila Real onde pude constatar a existência de alguns destes exemplares solarengos brasonados numa malha urbana coerente deste antigo burgo real. Todavia, muito decadente. São demasiados os edifícios abandonados e em ruínas no centro histórico.




Algumas fotos de brasões:






Ornamentos nos edifícios:




Varandas em ferro:




Igrejas, muitas igrejas:





A Casa onde se pensa que nasceu Diogo Cão, navegador do século XV:


Vila Real é sede da UTAD, logo, jovens não devem faltar. Aqui vai, então, uma pitada de irreverência: