De Bragança a Lisboa continuam a ser muitas horas de viagem. Não já nove horas, como na música dos Xutos, mas ainda muitas horas. Terra de emigração, é impossível não percorrer o concelho de Bragança e falar com a sua gente e ouvir, “ah, os meus estão para França”, “os meus saíram ontem para Lisboa”, “os meus vêm o próximo fim de semana do Porto”.
Ficou quem não pôde sair ou está quem já voltou.
Bragança é capital de distrito mas é incrível constatar como apesar de ostentar o título de cidade pode ser absolutamente rural mesmo no seu centro.
Observem-se estas imagens junto ao rio Fervença que corre pela ponte do Açougue abaixo do centro histórico.
O centro histórico de Bragança é quase que a união de duas povoações: Bragança havia sido em tempos romana no lugar próximo onde é hoje a Sé mas esse passado ficara esquecido; com a guerra entre mouros e cristãos em 1130 a cidade foi restaurada no lugar do Castelo. Ao longo dos séculos Bragança foi-se desenvolvendo entre-muralhas e também para além destas, formando um conjunto urbano de raíz medieval.
Este ponto de vista na estrada um pouco acima da Pousada de Bragança permite-nos entender melhor os contornos do Castelo e muralha da cidade.
Aqui ficam três elementos únicos: a Torre de Menagem, o Domus Municipalis e o Pelourinho.
A elegante Torre da Princesa é objecto de lendas, contando-se que aqui esteve cativa uma bela princesa apaixonada por um trovador.
O Domus Municipalis é um exemplo singular da arquitectura civil portuguesa, talvez do século XIII. Inicialmente serviria de cisterna, mais tarde viria a ser utilizado como lugar de assembleia dos homens-bons. É um imenso bloco rectangular de granito cujo interior sereno possui um banco corrido a toda a volta com janelas em arco que deixam ver a paisagem poderosa do exterior.
Já o Pelourinho, também conhecido como “Porca da Vila”, é um exemplar curioso, escultura zoomórfica tosca, a dita porca, que serve de suporte a uma coluna em granito.
Esta zona muralhada não é muito extensa e numa curta caminhada saímos do Castelo para rumarmos em direcção à Praça da Sé, sem atracções de maior.
O interior da Antiga Sé é surpreendentemente pequeno, mas a sua Torre do Relógio encanta pela simplicidade da sua torre ameada.
A Praça Camões, nas traseiras da Sé, pelo contrário, é ampla. E distinta com a sua arcaria.
Para baixo fica o Jardim António José de Almeida, onde encontramos umas esculturas de José Pedro Croft. Aqui tem início a frente ribeirinha do Fervença intervencionada pelo Programa Polis, um corredor verde moderno, nova cara da cidade.
E aqui abro um capítulo para uma Bragança diferente.
Havia referido uma Bragança rural, dando como exemplo este mesmo rio, não muitos metros distante daqui.
Bragança pode, afinal, ter muitas naturezas: rural e urbana. Histórica e moderna.
Há castelo, mas há também arte urbana como esta de Bordalo II.
E há museus a visitar como o do Abade Baçal (que nos oferece uma perspectiva histórica da região), instalado no antigo Paço Episcopal, ou o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (obras da artista nascida na região e outras exposições), com projecto de adaptação arquitectónica de Souto Moura.
Para além destes, a conferir ainda as exposições do Centro Cultural Municipal e do Auditório Paulo Quintela, onde fica instalado o Centro de Fotografia Georges Dussaud.