Existem diversas cidades subterrâneas na Capadócia (estima-se que rondem as 36, ainda que nem todas tenham sido escavadas).
Não se sabe ao certo em que época estes pontos de refúgio foram criados mas crê-se que, pelo menos, os Hittites já faziam uso deles, cerca de 4000 a.C. Certo é que durante o período bizantino estas cidades se desenvolveram. Entre os séculos VII e XII, esta região, que constituía uma importante passagem do ocidente para o oriente, era habitualmente assolada por inúmeras invasões estrangeiras. Para se poderem proteger dos ataques, os seus habitantes criaram estas extensas cidades subterrâneas que hoje podemos visitar.
As mais conhecidas são as de Kaymakli e Derinkuyu, descobertas por acaso na década de 60 do século passado.
Depois de alguma leitura e de conversações com colegas de viagem conhecidos no dia anterior e no próprio dia, optamos por visitar Derinkuyu. (um aparte: a Capadócia não é muito extensa, serão uns 80 por 80 km, daí que os turistas teimem em reencontrar-se ao virar da esquina). A melhor forma de nos deslocarmos entre os vários pontos de interesse, excluindo a “última solução” viagem organizada, é através de transportes públicos, nem sempre muito certos, no entanto. A ideia era visitar a cidade subterrânea por nós. À entrada encontramos uma série de guias locais que tentam de tudo para nos afastar aquela ideia. Um deles conseguiu. Juntando um grupo de 3 portuguesas, 2 francesas, 1 neozelandês e 1 irlandesa, lá nos safamos com as explicações a preço de saldo.
E são bem úteis, estas interpretações in loco do labirinto misterioso que nos espera.
Derinkuyu tem cerca de 18 pisos subterrâneos, ainda que só possam ser visitados os 8 superiores e cerca de 10% da sua totalidade. Estima-se que pudessem refugiar-se ali cerca de 20000 pessoas. Nestas caves subterrâneas existiam lugares reservados não só para dormitórios, cozinhas e refeitórios, como também igrejas e até uma escola missionária. Existiam igualmente lagares, celeiros e estábulos. Pois é, guardava-se tudo, não só as pessoas como também os animais e comida suficiente para abastecer todos por cerca de 6 meses. Vê-se ainda um túnel vertical de cerca de 55m que era utilizado para ventilar o espaço e também para espreitar e, se preciso fosse, atacar (em resposta) os invasores em cima do solo.
Existe ainda um outro túnel, escavado com o propósito de ligar a cidade subterrânea de Kaymakli, com cerca de 8 km de comprimento.
A Capadócia não pára de surpreender. Ao lado da sua mítica e inigualável paisagem que a natureza nos proporciona, quem diria que os nossos antepassados nos proporcionariam milénios mais tarde uma aula prática de história cultural acerca dos costumes e vivências dos trogloditas?