Se há uns (poucos) tempos alguém me dissesse que me tinha visto num concerto de José Cid diria que essa pessoa estava maluca. Afinal, depois do dia 20 de Novembro, a maluca sou eu.
As coisas mudam. Não sei bem o que mudou em mim, mas o certo é que fiquei com vontade de ir ao Casino de Lisboa ver o José Cid.
E com que me deparei? Centenas de pessoas – a maioria da minha geração (30 anos) e mais velhas – em delírio. Num agradável e bem disposto delírio. Algumas empunhando cartazes “Gosto mais de ti do que o macaco de banana”, “És a mãe do rock português”, “D. Sebastião está vivo”, “Dá-me favas”. A princípio não entendi o significado de nenhum deles. Quer dizer, o do macaco não me era de todo estranho, achava que já tinha ouvido ou lido qualquer coisa a respeito. Depois de ouvir a música confirmei que só podia ter lido algo sobre ela, pois a melodia era-me de todo estranha.
Será possível? Onde passei a minha juventude, que músicas ouvi, com quem me dei? Parecia que tinha caído naquele lugar de para-quedas (o que não andará muito longe da verdade). Não fazia ideia de que “Cai neve em Nova Iorque / Há sol no meu país / Faz-me falta Lisboa / Para me sentir feliz” e que há uma “Cabana Junto à Praia”. Quanto às “favas”, estava curiosíssima para saber que raio era aquilo que TODOS à minha volta pediam. Certamente nenhum dos restaurantes do Casino se dedicam a este exemplar da nossa gastronomia. Mas o bom do Cid não ligava nenhuma aos insistentes apelos às favas. Até que, já se ia embora, deu meia volta, deve se ter arrependido, cedeu e começou as primeiras palavras que enlouqueceram ainda mais o seu público. O meu novo herói não foi capaz de cantar o “não sei viver sem ti amor, diz-me o que hei-de fazer / faz-me favas com chouriço, o meu prato favorito” – o público cantou por ele –, mas confessou que não fazia ideia “o que é que vocês vêem de jeito nesta música”.
Como é que esta música e esta história saborosamente romântica me pode ter passado ao lado?
Em compensação tive direito a ouvir e cantar a plenos pulmões, e por 2 vezes, uma conhecida minha: “Vem, viver a vida, amor / Que o tempo que passou / Não volta mais / Sonhos que o tempo apagou / Mas para nós ficou / Esta canção”.
Enfim, uma noite apoteótica, na primeira vez em que ouvi alguém conseguir enfiar a palavra “ladrilhar” numa letra para música. Kitsch, numa palavra.
Um “Bem Hajam” para José Cid, sua banda e técnicos.
Apesar dos pedidos, desta vez Cid não tirou a roupa