Para além das “chaminés de fadas”, existem muitas mais formas esquisitas e irreais de rochas, umas parecem cogumelos ou castelos, outras não têm pura e simplesmente representação possível. O certo é que este conjunto nos faz transportar para paisagens que parecem copiadas da lua (pelo menos segundo o nosso imaginário). A par destas inúmeras formas, a erosão deixou-nos também diferentes cores.
Existem pelo menos duas maneiras soberbas para se apreciar as várias formas das rochas da Capadócia na sua plenitude: andando por entre elas ou sobrevoando-as. Deixando esta segunda para mais tarde, foquemo-nos agora nas caminhadas.
A Capadócia, e em especial a área à volta de Goreme, é um paraíso para aqueles que gostam de longas caminhadas em terrenos praticamente intactos pela acção do Homem – se excluirmos a ocupação natural das rochas que lhes foi dada pelos nossos antepassados.
Partindo de Goreme temos inúmeros vales para percorrer. Uns mais curtos, como o Zemi Valley, em português qualquer coisa como o “Vale do Amor”. A escolha do nome terá certamente algo que ver com as formas que por aqui se encontram.
Outro relativamente fácil de percorrer, não fora o sol abrasador, é o Kilçlar (Vale das Espadas), um dos mais acessíveis, já que fica situado junto à estrada que vai de Goreme para o seu “Museu ao Ar Livre”.
Ainda que não o tenha feito, cheguei depois à conclusão de que não será assim tão difícil ou complicado ir de Goreme a Uçhisar a pé, atravessando o Guvercinlik (Vale dos Pombos). Optei por ir e vir de autocarro mas na volta quase que desisti de o esperar, não fora a noite que já tinha acabado de cair. Não deverá levar mais de 1h30m / 2h de caminhada, passando pelos trechos da Capadócia onde, provavelmente, melhor se observa a acção das bicadas dos pombinhos na rochas. Alguns dos buracos por eles feitos mais parecem escavados pelo Homem, de tão grandes que são.
De Uçhisar, outro bom ponto de assentamento para os turistas, e especialmente do seu castelo a vista é fabulosa e alcança tudo o que os nossos olhos abarcam. Todos os vales, toda a geografia da região. O castelo, em si, visto de baixo para cima, é uma montanha de rocha absolutamente esquisita mas, ao mesmo tempo, absolutamente esmagadora e encantadora. Subi-lo até ao topo constitui outra boa caminhada.
Outros percursos, um pouco mais afastados de Goreme, podem ser feitos através do Gulludere (Vale Rosa), do Kizik (Vale Encarnado) e do Devrent (Vale da Imaginação). Não os percorri por inteiro a pé mas foi por aqui que o balão de ar quente sobrevoou grande parte da sua viagem e onde “aterrou”. Como o nome do último indica, aqui podemos observar formas ainda mais diferentes daquelas que havíamos presenciado anteriormente e tentar imaginar o que representarão.
Um último poiso, em Pasabagi onde se pode caminhar por entre “chaminés de fadas” com 3 “cabeças” com os campos de vinhas por vizinhos. Provavelmente o ponto mais fotogénico da Capadócia.
Bem mais longe de Goreme, a cerca de 80 km, fica o Vale de Ihlara (outra opção muito recomendada, também algo distante de Goreme, é percorrer os Vales de Soganli mas, afinal, o tempo não chega para tudo). Aqui a paisagem não tem nada que ver com as anteriormente descritas. É um canyon (garganta), onde o verde abunda e a caminhada desenrola-se lá em baixo, a cerca de 100 metros, no vale criado pela fissura feita na terra, com um rio a ladear o nosso caminho. O percurso total chega a cerca de 14 km, mas nós fizemos apenas metade. Percurso agradável, sem dificuldades de maior, a não ser nas subidas até às igrejas escavadas nas rochas, lá bem em cima. Também este local sofreu uma forte influência bizantina e aqui voltamos a encontrar diversas igrejas com frescos muito bem conservados.