quarta-feira, novembro 07, 2007

21 de Setembro – Puno – Copacabana – La Paz



Hoje começo o relato do dia pelo seu fim.
Chegámos a La Paz quase ao fim da tarde mas ainda a tempo de um passeio pelo Mercado Negro (onde se vende de tudo o que se possa imaginar, desde roupa, electrodomésticos, brinquedos, peças de carro, tintas, tudo muito bem dividido por zonas especificas numa área enorme situada numas ruas acima do nosso hotel – novamente o Rosário (http://www.hotelrosario.com/la-paz/) e por uma visita mais às lojas onde que queríamos comprar mais uns “recuerdos”.
Depois fomos calmamente pelo El Prado fora até para os lados da Plaza Avaroa, no bairro classe média-alta de Sopocachi, onde se encontram os melhores restaurantes da cidade (para o lado do nosso hotel é tudo demasiado turístico). Foram cerca de 40 minutos de uma caminhada branda, sentindo o ambiente e a agitação da grande cidade, especialmente fazendo horas para o jantar. Tentámos o primeiro restaurante (indicado como o melhor – os nossos euros sobre avaliados assim o permitem em La Paz) e … só com reserva. Tentámos outro e mais outro e … a mesma cantilena. Eram cerca das 19:15, os restaurantes encontravam-se vazios e a fome e o cansaço não me permitiram outra apreciação senão a péssima imagem de pretensiosismo destes rapazes dos restaurantes, qualquer coisa do género “para quê reserva numa cidade onde certamente poucos jantam fora?”. Depois de voltas e mais voltas não tivemos outro remédio a não ser empreender o caminho de volta e tentar jantar qualquer coisa que aparecesse pela frente. Infelizmente apareceu o Burger King e, para não variar, não nos safámos de recorrer a este tipo de casas “tradicionais”.
As ruas estavam cheias de gente, uma multidão para lá e para cá, quase impossível de caminhar. Até que, enfim, lá veio uma explicação satisfatória para todo este folclore (recusa de mesa em restaurantes incluída): este é um dia de festa por aqui – entrada na Primavera, dia dos namorados, dos médicos, dos estudantes, em resumo, tudo o que há para comemorar nesta vida parece que vem parar a este dia. Um dia especial, portanto. O dia em que todos saem para a rua a jantar. Pelo sim, pelo não, acabámos o dia de hoje a reservar o jantar e show para uma Peña para o dia de amanhã.


Voltando ao início do dia, a viagem desde Puno começou bem cedo pela manhã, com uma paragem de uma hora para almoço em Copacabana, até à retomada da jornada em outro autocarro para La Paz. Deu para sentir as diferenças nas estradas do Peru (pelo menos as da zona do Titicaca) em relação às da Bolívia, estas últimas muito piores mesmo quando asfaltadas. E os próprios autocarros também são aqui bem piores. Chamar mais uma vez turístico ao calhambeque que nos tocou desde Copacabana só mesmo tendo na ideia aquele que sai na rifa ao comum do boliviano quando tem de recorrer ao transporte público. O que é praticamente sempre. Quase ninguém tem, obviamente, carro particular e pelas ruas de La Paz, para além dos táxis, o que se vêem são centenas de vans que vão fazendo o transporte dos passageiros de uns bairros e zonas da cidade para as outras. Vai um motorista e, ao seu lado, um fulano apregoando o destino e cobrando a entrada de quem for entrando. Isto faz com que a banda sonora oficial das calles de La Paz seja qualquer coisa como a conjugação de uns gritos estridentes de “Miraflores, Estádio, Villa Pavon, Avaroa, Obrajes, Calacoto, Los Pinos, El Alto”.



El Alto, precisamente. A chegada à cidade de La Paz faz-se por El Alto, a outra cidade que foi crescendo à volta e no topo do vale onde fica a capital, cerca de 500 metros acima dela, o que faz deste subúrbio uma das cidades mais altas do mundo, a cerca de 4000m de altitude. Os migrantes das zonas rurais e interiores instalaram-se aqui quando demandaram à grande cidade e hoje terá uns 800 mil habitantes – e os números não param de crescer. Maioritariamente, a sua população é aymara e se antes utilizavam este poiso como dormitório, hoje o seu crescimento e desenvolvimento, quer a nível industrial quer comercial (é aqui também que fica o aeroporto internacional), faz de El Alto uma cidade inteira. Pobre e desordenada, ou não estivéssemos na América Latina pura e dura.
O impacto da nossa vista neste território é brutal. As casas inacabadas à beira da estrada (onde se observam as tentativas de asfaltar algumas delas), as barracas montadas onde se vende sempre qualquer coisa, o trânsito caótico, as ruas confusas onde não se sabe muito bem onde vão dar ou sequer se têm saída.
Voltaremos ao assunto, pois amanhã subiremos até El Alto e ainda mais.