Andar de comboio no Japão
é toda uma
experiência.
Existem linhas para quase todos os locais e os horários são
frequentes. Comodidade é
a palavra de ordem. Mas a organização
japonesa é o
que faz tudo funcionar na perfeição.
Ter a oportunidade de perder tempo a assistir ao ritual que medeia entre a
chegada de um comboio e a partida desse mesmo comboio de volta ao ponto de
origem é ficar
a conhecer um pouco mais dos japoneses e da sua capacidade de trabalho. O
comboio chega e, enquanto os passageiros vão
saindo, os funcionários
que irão
tratar de preparar o comboio para nova viagem aguardam às suas portas, fazendo alguns deles as
vénias típicas. Assim que o último cliente deixa
a carruagem, eles entram rapidamente e, de uma forma absolutamente treinada e
mecânica,
recolhem o lixo, substituem os lenços
das cadeiras e viram-nas a eito, numa espécie
de bailado, para que os próximos
clientes possam viajar de frente. Tudo numa rapidez esteticamente perfeita, bem
a tempo de permitir que o comboio saia para a sua próxima viagem à hora certa.
Já em
Tóquio,
depositadas as mochilas no hotel, vimos que este estava estrategicamente (pura
sorte) localizado em Nippori, a dois minutos de uma das estações da fantástica linha
circular Yamanote, da Japan Railway. Traduzindo, conveniente e coberta pelo
nosso passe. Ou seja, enquanto ficámos
neste hotel (à excepção dos últimos dois dias da
viagem, em que, uma vez mais por pura sorte, o nosso passe já não estava activo)
conseguíamos
chegar a qualquer sítio
à "borla".
De referir que em Tóquio
o comboio e o metro são
praticamente a mesma coisa, partilhando estações.
Começámos por uma caminhada até ao Parque de Ueno, passando pela rua Yanaka Ginza, uns quantos templos pequenos e um cemitério com umas lápides bem diferentes daquelas a que estamos acostumadas. A Yanaka Ginza é uma pequena rua comercial, com mercearias e lojas de chá, que ficaria bem em tempos idos. Às 17:30 metade das lojas já estão fechadas, para que não haja dúvidas de que na mega Tóquio, a cidade que verdadeiramente nunca dorme (estudorecente prova-o), é possível viver-se a outro ritmo.
E, para algo totalmente diferente, seguimos para Ginza, provavelmente a zona de Tóquio mais conhecida e reconhecida mundialmente. Fim de tarde, pretendíamos sentir o ambiente da frenética e cosmopolita Tóquio e fazer horas para o nosso tão ansiado jantar.
Aqui encontramos todas as melhores e maiores marcas do mundo,
cada uma delas com direito a um edifício
inteiro só para
elas. Já que
estávamos no
Japão, calhou
bem iniciarmos o périplo
pelas lojas na Muji. A questão
é que mesmo ao
lado fica a Tokyu Hands, outra mega loja com adereços de todo o género que possamos imaginar. Oferta e
possibilidade de escolha é
o que não
falta.
Logo pasmámos com uma esquina com um edifício branco com recortes (Mikimoto) e vimos que, para além dos objectos de marca, havia que deliciarmo-nos com os próprios edifícios em si. Alguns exemplos, entre muitos mais, são o edifício da Loius Vuitton, da Maison Hermes e da Dior.
Consumo, arquitectura e movimento são as palavras. As ruas são largas e planas e
aqui encontramos alguns edifícios
ao estilo ocidental, sendo o mais famoso provavelmente o Wako Tower, o do relógio. Ginza serviu,
nos finais do século
XIX, de modelo de modernização
e urbanização
para o novo regime Meiji. Hoje vem sendo ultrapassada no ultra consumismo por
outras zonas da cidade que foram, entretanto, surgindo, como Omotesando e
Daikanyama.
No entanto, no meio de todo este comércio em alta escala encontramos ainda
espaço para o
teatro Kabuki-za. Infelizmente, desta vez não
houve tempo para o kabuki.
Mas era o jantar deste dia que esperávamos vir a ser um dos pontos altos de
toda a nossa viagem. O escolhido foi o Kagurazaka Ishikawa e confirmou-se como
uma das nossas melhores refeições
de sempre. Apesar de possuir três
estrelas Michelin, não
há nada de
pretensioso nele. Ficámos
ao balcão
(existem ainda quatro salas privadas), duas portuguesas entre cinco chineses -
dois casais e uma rapariga sozinha, que não
se conheciam entre si. Ou seja, não
fora a barreira linguística
e tudo convidava à informalidade.
O menu muda todos os meses. Reportagem do nosso aqui.
A apresentação
dos pratos, como não
podia deixar de ser, foi lindíssima.
A simpatia do chef e seus assistentes encantadora. A curiosidade era partilhada
- nós queríamos saber deles e
eles de nós,
entusiasmados, pareceu-me que sinceramente, por receberem duas portuguesas.
Tudo perfeito com esta alimentação
por parte de todos os nossos sentidos.
De volta ao hotel, pudemos constatar como é vibrante a vida nas ruas de Tóquio até a noite se aproximar do dia seguinte. De facto, se eles dormem em média 5 horas e 48 minutos (como refere o tal estudo), em todos os bairros temos de os encontrar a pé até tarde, quem sabe a fazer horas para ir para o trabalho no outro dia. Neste dia sentimos isso no bairro de Kagurazaka, mas nos próximos dias senti-lo-íamos em qualquer outro bairro por onde passámos, fosse em Ikebukuru ou Ebisu, como já o havíamos sentido em Shinjuku, nenhum deles lugar específico da moda para se sair à noite.