Potosi tem cerca de 150 mil habitantes que fazem a sua vida a 4070m acima do mar. Duro, muito duro. Mais duro ainda se pensarmos que a cidade – a mais alta do mundo – vem assistindo desde o século XVI à árdua vida dos mineiros nos cerros nas suas proximidades.
O mais histórico é o Cerro Rico, descoberto em 1544 por Diego Huallpa, um inca que trabalhava para os espanhóis, apesar de lendas mais antigas nos contarem que outros incas já o haviam descoberto mas estavam a guardar o seu precioso metal para outros. Seria para os espanhóis?
O certo é que estes há muito que buscavam desesperadamente o el dorado no outro lado do Atlântico. Não lhes tocou o ouro mas tocou-lhes um cerro carregadinho de prata. Tanta prata foi de lá extraída que por graça houve quem afirmasse que chegaria para que os espanhóis pudessem ter construído uma ponte a ligar Potosi ao país dos recentes invasores.
E tanto foi o esplendor e o reconhecimento da cidade de Potosi, fundada em 1545 com o nome de Vila Imperial de Carlos V, um ano imediatamente após a descoberta da riqueza do Cerro Rico, e logo tornada a maior das Américas, com mais de 200 mil habitantes, tão grande como Londres na sua época, que Miguel de Cervantes viria, a propósito da sua riqueza, a criar um dito que ficou para a posteridade: “vale um potosi”, como selo de garantia de algo valioso – como a cidade de Potosi.
Com toda a prata que por lá circulava, para além da extensão e súbito crescimento da cidade, os espanhóis foram construindo inúmeras igrejas que ainda hoje se mantém em pé e bem preservadas, tal como, aliás, uma interessante arquitectura colonial, com edifícios com balcões pitorescos.
No entanto, ao lado de tanta riqueza conviveu a tragédia. Efectivamente, para se alcançar tanto esplendor foram, tristemente, sacrificadas muitas vida num regime esclavagista implacável. Milhares de indígenas foram explorados dramaticamente, tal como outros milhares de escravos que foram trazidos de África. A maioria pereceu pelas violentas condições de trabalho, onde os trabalhadores chegavam a ficar meses debaixo de terra, sem ver qualquer raio de luz, trabalhando sem parar. Outros, dramaticamente, acabavam por ter vidas dolorosas vergadas ás doenças respiratórias consequentes do ambiente da mina.
No século XIX a actividade mineira e o esgotamento das minas trouxeram o ocaso de Potosi. Hoje, no entanto, prossegue a exploração dos minérios no Cerro Rico, estanho e zinco, principalmente, pouca prata já existindo. Os trabalhadores, alguns com 11 anos, esses, não perdem a esperança de num golpe de sorte ganharem a sua vida.
Em 1987 a Unesco inscreveu Potosi na sua lista do património da humanidade, em reconhecimento de toda a sua história feita de riqueza e glória, sem dúvida, mas também de muito sacrifício de vidas vividas em condições desumanas.