quinta-feira, julho 05, 2007

E Em Portugal

Aproveitando a boleia, para as 7 maravilhas de Portugal arriscaria Castelo de Óbidos, Convento de Cristo, Mosteiros da Batalha, Alcobaça e Jerónimos, Palácio Nacional da Pena e Torre de Belém.
Bem sei que são um bocadinho previsíveis, principalmente no que toca à inclusão de Conventos e Castelos, mas creio que esta culpa será de quem escolheu as 21 finalistas sem procurar arriscar noutras arquitecturas menos consensuais para o grande público (o Palácio de Mateus, em Vila Real, poderá ser uma excepção mas não tive até à data oportunidade para o conhecer; a Fortaleza de Sagres, remetendo para o imaginário da época que mais marcou o nosso país poderá ser outra excepção mas acho aquele espaço construído tão pavoroso que não me consigo disso abstrair para me dedicar em exclusivo ao dito imaginário e à sua implantação fantástica).
Posto isto, e sem esquecer o quanto me agrada a Torre de Belém e o Palácio da Pena (a escala e estética de ambos faz-nos imaginar que possuímos um brinquedo), de todas as minhas escolhias destaco o Convento de Cristo de Tomar. Certo e sabido que tem a famosíssima janela manuelina, a renovada Charola da Igreja, claustros magníficos e, como se estes não fossem já suficientes, toda uma história ao seu serviço desde a Ordem dos Templários à Ordem de Cristo que aqui tinha a sua sede e que sob a batuta do seu mestre Infante D. Henrique haveria de empreender a nossa epopeia das descobertas. Mas, o que me faz decisivamente optar pelo Convento de Cristo são alguns elementos que estão para além dele mas que dele fazem parte inerente. Desde logo a sua localização, lá no alto espreitando-se Tomar e o Nabão, envolvido pelas muralhas do Castelo e pela Mata dos Sete Montes. Por aqui desenvolve-se um relativamente extenso aqueduto, de cerca de 6km, que com boa vontade (dos poderes públicos) podia ainda hoje continuar a desempenhar as suas originárias funções de abastecimento de água ao Convento de Cristo. O mais surpreendente é que este aqueduto, cuja construção foi iniciada em 1593 no reinado de D. Filipe I, alcança uma monumentalidade que diria quase escondida na zona do vale de Pegões (nome por que também é conhecido o aqueduto), possuindo na totalidade 180 arcos.
Em todo o caso, muito património a descobrir pelo nosso país afora.

Maravilhas No Mundo

Em época de votações para as novas 7 maravilhas do mundo, vou com o rebanho e indico em seguida as minhas escolhas.
Apesar de ter tido oportunidade de conhecer in loco 7 das 21 finalistas – Cristo Redentor, Coliseu de Roma, Torre Eiffel, Hagia Sophia, Kremlin / St Basil, Estátua da Liberdade e Alhambra – só esta última entraria na minha lista final.
Assim, ao Alhambra acrescentaria Angkor, Grande Muralha da China, Machu Picchu, Petra, Pirâmides de Gize e Taj Mahal, cheia de esperança de que em breve as possa vir a conhecer sem ser apenas através do cartão postal.
Curiosamente, pensei que neste Verão iria consegui-lo no que ao Machu Picchu diz respeito. Com viagem de avião já marcada para a vizinha Bolívia (a parte que mais dói no meio disto tudo – as intermináveis horas de voo e os intermináveis euros a voar), mal podia imaginar que 3 meses de antecedência seriam insuficientes para reservar o trilho dos Incas até a uma das mais que prováveis novas 7 maravilhas. Felizmente que esta é apenas uma lista infinitamente ínfima e muitos mais locais fantásticos do nosso globo temos a visitar, muitas das vezes bem pertinho das maravilhas “oficiais”.
Do Alhambra – o único da minha lista de que terei histórias vividas para contar – só tenho um senão: o tempo que fui adiando para o visitar. Bem sei que logo na primeira vez que fui até à sua vizinha Serra Nevada o tentei visitar. Era domingo e as gentes incontáveis que tiveram a mesma ideia obrigaram a uma imediata mudança de planos. Os anos foram passando e a minha pouca confiança em vencer os cerca de 30km de asfalto nevado que separam a montanha do Palácio pareciam constituir razão suficiente para não o visitar. Até que finalmente me enchi de coragem mas, ajudada pelo dia mau que afastava a mana do snowboard, ganhava uma parceira para a viagem. O dia mau representava muita neve e vento na Serra e muita chuva cá em baixo, em Granada e no Alhambra. Condições longe do ideal para um passeio que se quer memorável. O certo é que com chuva ou sem chuva esta cidade amuralhada, iniciada no século XIII, com Palácios que, de outra forma, só vemos nos filmes é de visita obrigatória. Os seus palácios luxuosos, encantadores na sua decoração mourisca preciosa e minuciosa, têm à sua altura os luxuriantes jardins.
Pouco mais se pode pedir do que um dia bem passado no Alhambra, de todas as maravilhas finalistas a que mais próximo se encontra de nós, quer em distância quer em influência.

quarta-feira, julho 04, 2007

Rituais de Luz

Se o reaproveitar dos equipamentos que outrora desempenharam uma função decisiva e insubstituível para a vida de uma cidade se revela de elementar bom senso e respeito pela história, transformando-os, por exemplo, em espaços museológicos, aproveitar ainda esses mesmos locais para aí se apresentar exposições, então, é conseguir quase o pleno no sentido de aliar o antes e o depois, permitindo uma nova vida a maquinarias que a merecem.
Vem isto a propósito da exposição “Rituais de Luz”, de Branislav Mihajlovic, que decorre até ao próximo sábado na Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, parte do Museu da Água que a EPAL nos oferece.
Já tinha tido a oportunidade de conhecer o espaço em si, perto de Santa Apolónia, com acesso, precisamente, pela Calçada dos Barbadinhos, paredes meias com um bloco de apartamentos do arquitecto Manuel Salgado, numa zona da cidade que não prima pela boa conservação dos seus edifícios mas, ao mesmo tempo, uma zona da cidade pitoresca, com vistas fabulosas para o nosso Tejo. Da Estação Elevatória, por entre as suas janelas de vidro rasgadas a toda a altura, o azul do céu cai numa perfeita harmonia no azul do rio, com a companhia da cor do sol que só na nossa cidade, e em particular nesta zona oriental, é possível observar.
Por entre as máquinas a vapor e as caldeiras que funcionaram até 1928 e ocupam esta Estação Elevatória desde 1880, com o objectivo originário de elevar as águas vindas do rio Alviela para o reservatório da Verónica e a Cisterna do Monte, com isso aumentando o volume de água a fornecer à cidade, convivem nesta altura os quadros de Branislav Mihajlovic (http://www.branislavmihajlovic.com/), sérvio radicado em Portugal que, informa o folheto da exposição, se terá também apaixonado pela luz da cidade. Todas as suas obras aqui expostas encontram-se plenamente integradas neste, à partida, pouco ortodoxo espaço para o efeito. Entre algumas obras cândidas figurando bancos de jardim, camas e cadeiras (de hospitais?) surgem outras mais duras, como as que remetem para a Guerra Civil de Espanha ou as que representam rostos expressivos.
Destaque absoluto, no entanto, para “Biblioteca” e “Colunas (Fragmentos)”. O primeiro, conjunto empilhado de livros – mesmo – sobre cujas pinceladas produzem como resultado um jogo estético maravilhoso. O segundo, através da utilização de fragmentos – mesmo – de pedras bem envolvidas na pintura que nos permitem uma visão real das colunas do que imaginamos ser um antigo templo romano.
A não perder.

terça-feira, junho 26, 2007

Fado no Eléctrico

Domingo foi dia de Fado no Eléctrico 28.
O programa, incluído nas Festas de Lisboa, consiste em percorrer de eléctrico o trajecto mais emblemático da cidade ao som da música nacional, interpretada por diversos fadistas (cinco) e dois músicos, que se encontram espalhados pelo transporte.
Enquanto percorremos as colinas e observamos a cidade, somos guiados pelo fado, que alimenta a nossa alma. Assim foi quando se cantou:

No castelo ponho o cotovelo
Em Alfama descanso o olhar
E assim desfaço o novelo
De azul e mar

À Ribeira encosto a cabeça
A almofada da cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo.

Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêem, tão pura
Teus seios sãos as colinas, varina
Pregão que me traz à porta ternura

Cidade a ponto-luz bordada
Toalha à beira-mar estendida
Lisboa menina e moça e amada
Cidade amor da minha vida

No Terreiro eu passo por ti
Mas na Graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha sorri
És mulher da rua.

E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que sei inventar
A aguardente de vinho e medronho
Que me faz cantar.

Lisboa do amor deitada
Cidade por minhas mãos despida
Lisboa menina e moça e amada
Cidade mulher da minha vida.
Ontem a razão de se cantar o fado, ao contrário do que a música diz,

Há para o sofrimento
Um bom remédio afinal
É cantar e num momento
Ninguém se lembra do mal
Não custa mesmo nada
Tentem fazer como eu
Uma guitarra afinada
Um voz bem timbrada
E tudo esqueceu

refrão:
Quando a tristeza me invade
Canto o fado
Se me atormenta a saudade
Canto o fado
Haja ciúme á vontade
Canto o fado
Por uma esperança perdida
Não passe na vida
Por um mau bocado
Se acaso a sorte o esqueceu
É fazer como eu
Deixe andar cante o fado
Não é que não me interesse
Por quem a dor não resiste
Mas a gente que parece
Que gosta até de andar triste
Tem sempre um ar fatal
A que ninguém o obriga
E nesta vida afinal
Vendo bem nada vale
Mais do que uma cantiga
não era para espantar os males, mas antes para celebrar a alma da cidade.
Viva Lisboa!

quarta-feira, junho 20, 2007

Mina de São Domingos

No Centro de Artes de Sines estava patente, em meados de Abril, uma exposição denominada "Minas de São Domingos – Olhares sobre um lugar", reunindo trabalhos de fotografia, pintura e som de António Cunha, Helena Lousinha e Jean-Pierre dos Santos, mostrando-nos, assim, os olhares destes artistas sobre todo o complexo da Mina.
Esta exposição fez-me recordar a minha única visita à Mina, faz agora praticamente 2 anos.
Devo confessar desde já que a vontade de andar em pleno Verão alentejano num passeio exploratório pela região em busca de umas ruínas de uma antiga mina não era muita. Provavelmente nunca terei estado num local onde o sol fosse tão abrasivo e um simples passo na terra fosse tão maçador e fatigante (estariam seguramente uns 44 graus). Mas a energia e convicção da mana é sempre motivo bastante para me por a caminho.
A acrescer à influência da mana, deve também referir-se que o meu gosto pelo património industrial já vinha a crescer, muito também por força do trabalho desempenhado pelos meus colegas historiadores, arquitectos e arqueólogos do meu antigo local de trabalho, onde os dias eram dedicados à protecção, salvaguarda e valorização do nosso património cultural. Hoje, posso afirmar, olho para as Minas de São Domingos, para a Central Tejo e para os Gasómetros da Matinha com o mesmo interesse e deslumbre com que olho para as Ruínas de Conímbriga, para o Pavilhão Atlântico ou para o Mosteiro dos Jerónimos, para referir apenas alguns exemplos

Dito isto, a Mina de São Domingos, fica situada no concelho de Mértola, no Alentejo profundo, e encontra-se em vias de classificação como imóvel de interesse público pelo Ministério da Cultura.
Alguns achados arqueológicos na zona da mina permitem-nos calcular que a actividade mineira tenha já sido parte da vida dos romanos neste local, exploração esta que terão abandonado cerca de 397 a.c.
O fim do abandono das minas deu-se apenas em 1854, data do seu achamento (para utilizar a palavra politicamente correcta recentemente escolhida a propósito do descobrimento do Brasil), após prospecções pela região na sequência do decreto que determinou o fim do monopólio régio sobre a exploração mineira.
No entanto, o início da sua actividade apenas ocorreu em 1857.
A exploração de minério, sobretudo cobre (estima-se que tenham sido retirados cerca de 25 milhões de toneladas de cobre durante a vida activa da mina), acontecia não só a nível subterrâneo mas também a céu aberto. Para o efeito foi construída uma rede de galerias e túneis que entravam pela rocha e que tinham cerca de 2 m de largura por 4 m de altura (e, mais tarde, 4m por 6m); para o labor a céu aberto foram efectuadas escavações até aos 62m, utilizando-se uma linha-férrea particular de cerca de 18km para a extracção (ligando a mina ao Pomarão – porto do Guadiana). Existiam 27 poços verticais e 7 açudes que utilizavam a água da Ribeira de Chanca.

Para assegurar o bom funcionamento deste empreendimento mineiro (o primeiro no país) e fazer face às necessidades básicas dos seus trabalhadores (a sua chegada à região fez subir o número de habitantes de poucas dezenas para quase 10000 ao longo das novas aldeias e vilas operárias que foram criadas no novo complexo industrial) foram criadas diversas infra-estruturas: edifícios e maquinaria para a exploração mineira (armazéns, oficinas, laboratórios, escritórios, caminhos de ferro) e casas para alojar não só os operários como também os técnicos superiores e directores da mina.
Ou seja, para além dos bairros operários, compostos por casas em banda com apenas o piso térreo, havia igualmente lugar para as casas não tão modestas, com relvados à inglesa, para as chefias.
A par das habitações foram ainda criadas infra-estruturas comunitárias como o quartel militar e de polícia, hospital, farmácia, estação de correio e telegrafo, mercado, biblioteca, igreja e cemitério, enfim, tudo o que uma verdadeira povoação tem.

A actividade mineira foi sofrendo diversas crises ao longo dos anos, e nem a exploração a céu aberto nem a posterior produção de enxofre em altos fornos, destinado principalmente à CUF no Barreiro, foram suficientes para evitar o declínio e encerramento da Mina de São Domingos em 1965.

Hoje, após o saque indiscriminado da mina, o termo mais exacto para a descrever é mesmo o de ruína. Esta encontra-se completamente ao abandono, a não ser que excluamos as inúmeras cegonhas que teimam em construir e guardar os seus ninhos no cimo dos poços e das chaminés que outrora permitiam a marcha viva da mina.

Os edifícios descascados, paredes incompletas sem tecto, fazem-nos crer estarmos perante uma cidade arrasada por uma guerra. Mas não. O desleixo, incúria e falta de vontade de nos legar o património de uma indústria que foi toda uma vida de uma região é que nos deixou este cenário violento.


As casas dos antigos operários, todas em fila e tipicamente caiadas em branco, apesar de denotarem ainda alguma vida, deixam-nos a certeza de que esta será apenas um resquício do que terá sido a azáfama das famílias que aqui se estabeleceram um dia na esperança de um futuro melhor.


Melhor sorte teve o palacete que antes era ocupado pela sede da empresa britânica que administrava as minas. Foi transformado numa unidade hoteleira – a Estalagem São Domingos, um 5 estrelas pleno de conforto no Alentejo profundo, cujo projecto arquitectónico, quer exterior quer interior, tem sido objecto de elogios. Para quem não está interessado ou não pode pernoitar na Estalagem, vale a pena, ainda assim, um passeio pela praia fluvial à sua frente, a da Tapada Grande, considerada pela DECO como uma das melhores do país.


O cenário mais impressionante fica, no entanto, por conta da lagoa artificialmente criada para que fosse realizada a decantação das escorrências da já desactivada mina. A cor da sua água é irreal, tal é a sua acidez. São tons azulados sobrepostos a laranjas, misturados com o avermelhado da terra.


Esta água é tão ácida tão ácida que é utilizada para lá depositar os animais mortos, evitando assim que estes fiquem num estado de putrefacção a céu aberto.
Se imaginarmos tudo o que de mau e perigoso estas águas poderão comportar, a imagem de abandono e desolação da Mina aumenta ainda mais.
Mas a contradição está precisamente aqui. No saber que há um tempo que não volta mais, esgotados que estão os recursos naturais; na dificuldade em não deixar deteriorar irreversivelmente um espaço que há não muitos anos possuía vitalidade; na tentativa até agora falhada de preservar a memória de algo que fez parte do quotidiano do nosso país.
Face a todos estes aspectos negativos, estar perante aquele complexo em ruína permite-nos, ainda assim, sentir ainda presente o dia a dia dos milhares que por ali passaram as suas duras vidas e sentir que somos também nós parte na história. Em resumo, uma experiência deveras enriquecedora.

quarta-feira, junho 13, 2007

Centro de Artes de Sines

O Centro de Artes de Sines, a par do Centro das Artes Casa das Mudas, na Calheta, é provavelmente um dos edifícios que mais tem dado que falar no que diz respeito à sua arquitectura. Em comum, para além dos elogios e dos prémios que vêm recebendo (e de ambos terem sido seleccionados para o prémio de arquitectura contemporânea “Mies van der Rohe”) têm ainda o propósito de fazer chegar a cultura a lugares que haviam estado afastados desse circuito.
Da Casa das Mudas da Calheta, do arquitecto Paulo David, já aqui se falou em post anterior.
Passemos, então, para o Centro de Artes de Sines, obra dos irmãos Aires Mateus.



Inaugurado no Verão de 2005, os arquitectos tiveram a intenção de que o edifício fizesse parte da cidade e funcionasse como porta do seu centro histórico.
O local onde foi implantado expressa não só o início do caminho medieval que abre a cidade à baia (através da Rua Cândido dos Reis) como também a via que delimita a cidade histórica da cidade moderna (Rua Marquês de Pombal). Aliás, a rua que divide os dois corpos do Centro de Artes (a Rua Cândido dos Reis) foi integrada com tal sucesso no projecto que pode dizer-se que, hoje, não o poderíamos conceber de outra forma.



A plena integração destas duas épocas da cidade é melhor apreendida por um breve passeio pelas imediações do Centro das Artes, ora vizinho de prédios residenciais comuns a qualquer cidade portuguesa (parte nova) e mais adiante velhos edifícios nem sempre bem conservados (parte velha). Igualmente, a diferença de vivências da cidade encontra-se bem vincada na espécie de vila, nas traseiras do Centro de Artes, com casas de um piso, pitorescamente decoradas na sua entrada com vasos de plantas e tanques de lavar a roupa.



Com este Centro das Artes de Sines pretendeu-se conjugar várias valências num só espaço, como o sejam o acolhimento do centro de exposições, biblioteca, auditório e arquivo municipal, como forma de atrair mais pessoas, quer em número como em diversidade de interesses. Quando por lá passei, em Abril, éramos as únicas no espaço dedicado ao centro de exposições (o facto de ser dia de semana servirá como desculpa?) mas a biblioteca estava, efectivamente, bem composta, quer por jovens quer menos jovens, muito por força da disponibilidade de jornais e revistas.






A arquitectura do edifício, em si, faz-nos recordar um pouco o Centro Cultural de Belém, pela cor dos materiais usados no revestimento do seu exterior. Como o referido anteriormente, ao nível do solo o equipamento é formado por dois corpos atravessados pela Rua Cândido dos Reis, cujos espaços estão interligados e acabam por formar um só corpo ao nível do sub-solo.
Existiu a preocupação, por parte dos seus arquitectos, de permitir que o interior do edifício fosse iluminado naturalmente, o que é conseguido através da colocação de vidros nas fachadas. Curiosa a forma adoptada de introdução destes vidros que nos vai possibilitando desde o interior sentir o pulsar do dia a dia de quem lá fora vai atravessando a artéria que corta os dois corpos.
Tudo muito bonito, sim senhor, espaçoso e permitindo uma boa orientação no que ao centro de exposições diz respeito. Todavia, não pode deixar de referir-se o balde (literal) de água fria que foi verificar que quando chove (era o caso) a água escorre desde a porta principal até cá abaixo, aninhando-se junto às obras em exposição, não restando outra solução às zelosas funcionárias que não lançar mão do tradicional balde (o tal) para fazer face ao seu mais cómodo armazenamento. Erro de projecto? Erro de execução? Enfim… se até o Calatrava tem processos em cima pelas constantes escorregadelas dos cidadãos que teimam em atravessar a sua ponte em Bilbao em dias de chuva…

terça-feira, junho 12, 2007

Refeição Completa

Que mais pedir de um pedaço de terra banhado pelo mais belo que o Atlântico tem para nos oferecer, pleno de paisagens de beleza asfixiante, falésias escarpadas, declives verdejantes, casas pitorescamente empoleiradas; natureza – sobretudo – mas também cultura; um turismo para todos os gostos, seja de passeios de barco, automóvel, carros de cesto ou, muito simplesmente, a pé; caminhadas na cidade, junto ao mar ou na montanha?
Será pedir muito que a sua oferta gastronómica esteja à altura? Poderíamos até abusar da sorte se o pedíssemos, mas não é necessário – ela é real.
Alguns exemplos:
Iniciemos o pequeno-almoço acompanhando os costumeiros chá, café ou leite com fruta em abundância, com a banana da madeira à cabeça.
Ao almoço, se nos encontrarmos na zona velha do Funchal, perto do Mercado dos Lavradores, será uma perda inestimável não parar no Jaquet. O casal de irmãos que nos recebe só cozinha e serve peixe, mas isso não quer dizer que seja restrito aos apreciadores do dito. Nas paredes vêem-se inúmeras mensagens e recados deixados pelos anteriores comensais e num deles pode ler-se qualquer coisa do género “não gostava de peixe mas depois desta refeição mudei de ideias”. Simpáticas balelas, pensou esta escriba que se recusa a comer qualquer peixe quando a tal não é obrigada pela sua mãe. Mas como não existia mesmo outra saída para aguentar o resto da tarde sem ser de barriga vazia, um mito caiu: o da impossibilidade de apreciar peixe, ainda por cima espada e logo frito. Uma inesquecível delícia a que não é alheio o esmerado tempero.
A meio da tarde, e para adoçar a boca, não calha nada mal um rebuçado de funcho. Para o lanche, esse, uma boa opção será o típico bolo de mel (digo será porque, infelizmente, a minha esquisitice não se fica pelo peixe).
Ao jantar é difícil escapar à carne, designadamente, às famosas espetadas em pau de louro no tão elogiado “As Vides” no Estreito de Câmara de Lobos. No entanto, antes de nos lançarmos numas centenas de gramas da melhor e mais saborosa carne do país, uns pedaços de bolo do caco ajudam a entreter a (curta) espera.
E já que estamos para estes lados, nada melhor do que acabar a noite num dos bares de Câmara de Lobos, como fazem os funchalenses, tomando um copo de poncho (pequenino, uma vez que há que voltar a conduzir para o Funchal).
E com este pequeno enunciado de um dia gastronomicamente perfeito cometo um sem número de injustiças: deixar de fora diversos pontos onde uma refeição será igualmente especial e inesquecível. Abro, no entanto, espaço para mais dois deles – o Jango, também na cidade velha do Funchal, e o restaurante da Fajã dos Padres.

quarta-feira, junho 06, 2007

Ponta São Lourenço

A tão desejada e há muitos anos ansiada volta à Madeira estava envolta em muita expectativa para descobrir uma Madeira quase totalmente desconhecida, plena de paisagens fantásticas e exuberantes.
Essas expectativas não saíram frustradas.
No entanto, o tempo nublado e a chuva frustraram-nos a maior parte das fotografias. Dá para imaginar o que é que isso significa para mim, que quase não consigo conceber uma viagem sem um constante disparar da máquina fotográfica?

Mas como não há bem que sempre dure, também não há mal que nunca acabe.
Vai daí, chegadas à Ponta de São Lourenço obtivemos, enfim, um cenário quase em grande que pôde ser deixado em foto para mais tarde recordar.



Para estes lados da Ponta de São Lourenço pensámos fazer uma das nossas sonhadas caminhadas mas no turismo desaconselharam-nos por alguma perigosidade em parte do troço. Não tivemos, assim, oportunidade de o verificar in loco.
Situada no concelho do Caniçal, esta é uma península onde se encontra o ponto mais oriental da ilha da Madeira, 9 km de comprimento e 2 km de largura, já incluídos os seus dois ilhéus, o Ilhéu da Cevada e o Ilhéu da Ponta de São Lourenço. Daqui se avistam nitidamente quer as ilhas Desertas quer a ilha do Porto Santo e se realiza o quão perto ficam da principal ilha do arquipélago.
Ao contrário da paisagem mais comum no resto da ilha, por aqui não existe a mesma vegetação luxuriante e a cor escura e algo avermelhada da terra não nos deixa dúvidas de que estamos numa ilha efectivamente de origem vulcânica.
Ainda que do lado da belíssima enseada de Baia de Abra a terra não esteja exageradamente distante em altura do mar, as falésias do outro lado, essas, e à semelhança dos outros cantos da ilha, continuam enormes e assustadoramente belas.

sexta-feira, maio 25, 2007

Um Cantinho Especial

Apesar de a Ilha da Madeira não ser muito extensa, existirão certamente recantos em número considerável onde nos possamos sentir únicos. Únicos no sentido literal e únicos pela sorte de existirem locais onde o tempo parece não ter passado.
A Fajã dos Padres será um deles.
Perto do Cabo Girão, seguimos em direcção à freguesia da Quinta Grande e, mais pergunta menos pergunta, havemos de dar com o local. O acesso à Fajã dos Padres, colocado de lado o barco e o helicóptero, é efectuado através de um elevador instalado no topo da falésia a cerca de 250 metros de altitude. Coisa pouca, se compararmos com os 580 metros do Cabo Girão. A este propósito, não confundir o teleférico para as Fajãs do Cabo Girão (o do Rancho, aberto desde 2003) com o elevador para a Fajã dos Padres (mais antigo).



A viagem de cerca de 4 minutos neste elevador, uma estrutura que parece algo arcaica e monstruosa, tem tudo para ser uma experiência apelativa e inesquecível. Funciona como um miradouro com uma considerável altura, com vista para a imensidão do Atlântico, as falésias que nos rodeiam e a pequena fajã bem lá em baixo. No nosso caso, para além destes factores, tornou-se igualmente marcante por termos ficado presas dentro da dita caixa monstruosa, uma vez que a sua porta teimava em não abrir. Como o manobrador da geringonça já nos tinha avisado que os cabos precisavam de descansar cerca de 5 minutos entre cada viagem, logo começamos a especular sobre o que de mal teríamos feito para não conseguirmos sair dali para fora. Benditos telemóveis que nos põem em contacto imediato com quem sabe das coisas e nos recomenda calma até que o elevador assente convenientemente seguindo os seus tempos.
No entanto, este inconveniente levemente assustador foi francamente ultrapassado logo à saída do elevador que nos trancou. Iniciando mais uma descida, agora pelos nossos próprios pés, vimo-nos imediatamente rodeadas de plantações de vinha, banana, manga, abacate (do qual trouxemos um delicioso exemplar esquecido no chão) e também, ainda que sem a mesma abundância, papaia, figo, maracujá e outros frutos tropicais.



Bem sei que estava a chuviscar um pouco, mas dá para imaginar o que é encontrarmo-nos numa língua de terra, espremida entre o mar e a enorme falésia, com plantações que quase nos cobrem o corpo, caminhando sob as videiras em direcção aos 3 ou 4 casebres que compõem o povoado, retornar e dirigir-nos ao calhau para sentir o mar ainda mais de perto e apenas nos cruzarmos com o Sr. Eng.º, o dono da Quinta que havia ido ao encontro do elevador para tomar conta da ocorrência levemente assustadora?
Descrevo o paraíso? Não, mas a existir não deve ficar muito longe daqui.
Este pedaço de terra, para além da exploração da agricultura e da vinha, funciona como estância turística (alojamento num dos casebres referidos) e possui um restaurante que é presença nos roteiros gastronómicos do nosso país. Parece algo estranho que uma cozinha instalada no fim do mundo possa ser referência, precisamente pelas dificuldades que terá no acesso aos melhores produtos. Ok! Como dizia o reclame “prova e verás”. Só para me ficar na batata, direi que há muito que não comia batatas tão saborosas.
Concluindo a descrição do local que mais lamentaria não conhecer na Madeira, falta referir que a Fajã dos Padres deve o seu nome aos padres da Companhia de Jesus que aqui se instalaram durante mais de um século, tendo sido eles os responsáveis pela introdução do vinho Malvasia. Este vinho típico da Madeira (os outros famosos são o Bual, Verdelho e Sercial) tem aqui na Fajã as suas melhores uvas.
Uma nota mais: durante o Inverno, a Fajã recebe ondas de qualidade, daí que mereça vir até aqui acompanhada de prancha de surf.
Até por isso, e com ou sem elevador, a mana diz que era capaz de viver num sítio destes. Pudera!



http://www.fajadospadres.com/

quarta-feira, maio 23, 2007

Pico do Areeiro – Pico Ruivo

O tempo na ilha é mesmo estranho. Muda de repente, mesmo que após olharmos para o céu fiquemos com a certeza de que não, desta vez não existe qualquer possibilidade do tempo nos pregar uma partida.
Vem isto a propósito do nosso desafio de “escalarmos” até ao Pico Ruivo (1862m) desde o Pico do Areeiro (1818m), em pleno maciço montanhoso central da ilha da Madeira.



Assim, no dia de Páscoa preparamos o equipamento (botas, camisola de polar, impermeável, lanterna e farnel), deixámos a mãe no Pico do Areeiro juntamente com umas revistas e despedimo-nos para até daí umas 3 – 4 horas.
O tempo que se fazia sentir e o sol pareciam estar a nosso favor e saímos do Pico do Areeiro com uma simples t-shirt.



A descida, de cerca de 15 minutos, até ao miradouro do Ninho da Manta está ao alcance da maioria das pessoas que vêm até ao Pico do Areeiro (o pior é a subida mas como a distância não é muita…). Neste poiso, onde se crê que a ave de rapina de mesmo nome nidificava, a vista para a Fajã da Nogueira (direcção Balcões) deve ser fabulosa. Digo deve porque no momento em que lá estivemos só se avistaram nuvens, ou melhor, um nublado tão cerrado que transformou a paisagem num intenso e impenetrável manto branco. Em contrapartida, para o lado esquerdo, direcção Curral das Freiras, conseguimos ter certeza de que a vista desafogada de nuvens é esmagadora, um cenário de verde luxuriante. Digamos que tivemos 50% de sorte, mais ainda se pensarmos que a possibilidade de encontrarmos um nevoeiro cerrado por estas bandas é enorme.






Continuando a caminhada, e dedicando-nos exclusivamente a olhar o visual do nosso lado esquerdo, por entre a monotonia (atenção que nem sempre a monotonia é negativa!) basáltica e inundada de urzal, e após sairmos do túnel do Pico Gato, chegamos à conclusão de que seremos forçadas a contornar o Pico das Torres (1851m) e não a atalhar pelo túnel deste Pico que nos permitiria uma passagem rápida e mais directa da montanha rumo ao nosso objectivo final, uma vez que aquela área se encontrava em manutenção. Uma estafa e uns km a mais. Esta intensa subida pela escadaria escavada na rocha do Pico das Torres só é comparável (dizem) à parte final da chegada ao Pico Ruivo. Só dá vontade é de recolher para uma pausa retemperadora numa das grutas escavadas nos tufos vulcânicos que vamos encontrando pelo caminho. Mas o pior é que não estiveram muito longe de serem por nós utilizadas como abrigo, não do cansaço, mas antes da chuva. Pois é, o tempo havia mudado por completo e neste momento já nem o lado esquerdo tinha visibilidade. Para ser mais concreta, nem o esquerdo, nem o direito, nem um palmo à frente. O nevoeiro cerrado era tanto que apenas a chuva inclemente lhe fazia frente.

Alcançado o Pico das Torres dêmos com uma excursão de caminhantes alemães, com guia, e foi aqui que realizámos, enfim, que as nossas previsões de 3 – 4 horas para chegar ao Pico Ruivo e retornar ao Pico do Areeiro estavam completamente furadas. Culpa do túnel fechado para manutenção? Não só, ainda que isso nos pudesse ter poupado mais de meia hora por trajecto. A questão é que havíamos caído no erro de basear as nossas contas dos 6km em 3 – 4 horas como se este fosse um percurso circular, à semelhança do Rabaçal e dos Balcões. Esquecêramo-nos, porém, que nestes dois não há forma (ou é rara e arriscada) de retornar sem ser voltando pelo mesmo caminho, daí que as indicações de km e tempo sejam para a ida e a volta. Já no que respeita ao percurso entre os picos mais altos da ilha não acontece assim. Do Pico Ruivo pode seguir-se para a Achada do Teixeira e depois tomar a estrada.

Sabemos agora que o mais inteligente é fazer uma só direcção do percurso e ter um carro que nos transporte de novo para o Funchal (ou onde estivermos alojados). Com ou sem viagem organizada. Aí, sim, as nossas contas iniciais bateriam certo.
Erro primário, portanto; resultado óbvio, como consequência: meia volta no Pico das Torres, após cerca de 1h 20m, a pouco menos de meio caminho para o objectivo final do Pico Ruivo.
Ainda assim, um sabor a troféu, afinal de contas o Pico das Torres é o 2.º mais alto da ilha. E, servindo de consolo, o temporal que se abateu sobre as nossas cabeças e corpo, deixando-nos absolutamente encharcadas, pouco nos permitiria usufruir da paisagem e da própria caminhada.
Moral da história? O retorno à Madeira é mesmo um imperativo. A todas as caminhadas que julgávamos nos iriam ficar a faltar juntou-se a mais emblemática de todas elas.

Balcões


Por aqui não há tanta gente como no Rabaçal, sem dúvida o mais popular da ilha.
O percurso que nos leva até aos Balcões inicia-se no Parque Florestal do Ribeiro Frio, junto à estrada, um local onde existem viveiros de trutas. O caminho até aos Balcões é extremamente fácil, cerca de 1,5km para lá, mais 1,5km para cá, 25 minutos para cada lado. Terreno sempre plano e largo, com a levada sempre a acompanhar-nos.
Aqui a Floresta Laurissilva apresenta-se-nos em todo o seu esplendor, inundando-nos do seu manto verdejante. São loureiros em abundância, vinháticos, orquídeas e muitas outras espécies endémicas. Igualmente, pelo caminho vamo-nos deparando com diversas espécies de pássaros, alguns deles raros.
Chegados ao miradouro dos Balcões, a cerca de 900m de altitude, à nossa direita o Faial, à esquerda o Pico das Torres e o Pico Ruivo. Não é improvável estar nublado e, assim sendo, foi isso que nos tocou. Ou seja, para o Faial, em direcção ao Atlântico, ainda se conseguia suspeitar uma paisagem fabulosa, entre uma ou outra nuvem carregada que ia deixando ver o azul do céu e do mar. Já para os Picos mais altos da ilha, na sua Cordilheira Central, nem com todo o esforço os pudemos sequer imaginar. Desilusão? Um pouco, não há que negar. Mas, ainda assim, o cenário com que nos deparamos mesmo diante dos nossos olhos do vale próximo e em baixo do miradouro já compensaria qualquer viagem.
O vale verdejante e recortado por montes e pela Ribeira da Metade é esplêndido e a vontade que dá é a de ficar por ali, esquecida do mundo, observando os caprichos da natureza que vai moldando o território a seu bel-prazer. Sim, é verdade, também ajuda a esperança de que a qualquer momento o tempo volte a abrir e possamos ter uma vista mais larga e sem nuvens só para nós.

Rabaçal

“É preciso andar mais a pé, para adoecer menos, para melhor conhecer esta terra. Comece pela zona do Rabaçal. […] Prepare o farnel, arranje calçado adequado, ponha na mochila uma camisola e um impermeável.”


Seguindo o conselho do Dr. Raimundo Quintal, na obra citada no post anterior, a escolha para debutar nas caminhadas pelas levadas e veredas da Madeira recaiu sobre o Rabaçal – Risco – 25 Fontes.


A jornada começa cá em cima, em plena estrada no Paul da Serra, onde se estaciona o carro. Se ficassemos por aqui, a paisagem já seria fabulosa. Mas seguimos em busca de mais e é aqui que se iniciam os 2 primeiros km pelo asfalto. Como a estrada até ao Rabaçal (pouco mais do que uma casa de abrigo, lavabos e um parque de merendas) é muito estreita e são imensos os caminhantes que aqui acorrem, para além de “a la pata” apenas existe a possibilidade de se efectuar este trajecto através de uma carrinha posta à disposição dos caminhantes pela Câmara Municipal da Calheta, por módicos 2 euros.
No entanto, e como a ânsia de obra pública não pára na ilha, encontra-se prevista a construção de um teleférico que ligue o Paul da Serra ao Rabaçal. O mais sério da coisa é que há quem consiga pensar esta ideia e afirmar que será mantido o enquadramento com a envolvente criando pouco impacto visual na paisagem sem se rir.
Eis a foto da coisa ainda em projecto.

Enfim… com ou sem esta facilidade de acesso, o certo é que esta é provavelmente a caminhada mais popular e é inacreditável o número de turistas e ilhéus que aqui acorrem para viver um bom momento. Novos ou velhos, em forma ou fora de forma, são aos magotes os turistas quase de bengala. O espírito de descoberta e aventura está bem presente. E o que tem esta zona de tão especial? Decisivamente, o aliar uma caminhada agradável, por vezes nem sempre fácil e, por isso, algo desafiadora, a uma paisagem deslumbrante.
Saindo da casa de abrigo do Rabaçal, começamos por descer por uma escadaria com largos degraus com troncos de madeira. Nada de muito difícil mas ficamos logo com um cenário da estafa que iremos sofrer ao subir na volta. Em breve chegamos a uma placa (os percursos estão sempre bem sinalizados) que nos indica 25 Fontes para um lado, Risco para o outro. Seguimos por este último, cerca de 1km, 15 a 20 minutos, numa vereda larga sem dificuldade, que nos deixará bem defronte de uma queda de água de cerca de 100 metros, vinda da Lagoa do Vento (percurso que não fizemos).


Pela ilha fora vamo-nos deparando com um sem número de quedas de água, umas maiores do que outras, algumas apenas uns fiozinhos de água. Mas a altura desta, escondida por entre a intensa vegetação, é impressionante. Existe um miradouro donde podemos apreciar este cenário em toda a sua plenitude e logo de seguida encontramos um carreiro de pedra que nos leva ainda mais próximo da queda de água. Aliás, não é só desde lá de cima que cai a água. Atravessando este curto carreiro levamos um autêntico banho do qual não temos muita vontade de correr, para melhor apreciarmos as paredes das rochas que nos ladeiam e o musgo que lhe está impregnado, os quais foram sendo esculpidos e moldados pela acção da água e da humidade naquele local.
Aqui chegados, e depois de nos deixarmos estar um bom bocado sem preocupações, há que iniciar a volta pelo mesmo caminho, até à tal placa que indica 25 Fontes e atalharmos por aí. Serão cerca de 2,5 km para lá, mais o mesmo para cá. No entanto, aqui faremos o caminho junto a uma levada.



E o que são estas levadas? Pois bem, não são mais do que canais que trazem a água aos vários cantos da ilha para que esta possa irrigar os terrenos. Todavia, a construção destas levadas foi tudo menos fácil. Mãos humanas tiveram que superar os constantes desníveis da ilha e o seu relevo acidentado (note-se que se chega a atingir facilmente os 1000 metros de altitude em quase qualquer ponto da ilha, sendo que o Pico Ruivo, o mais alto, encontra-se a 1862m, não ficando, pois, a dever muito à altitude da Serra da Estrela a 1993m, só superados pela Ponta Pico, nos Açores, a 2351m).
Muitas das vezes houve até que escavar por entre as rochas, criando túneis, para que a água caminhasse confortavelmente por estes canais – os mais modernos em alvenaria, os mais antigos simplesmente em calhas de madeira. Uns mais largos e profundos do que outros. Uns acompanhados por largas veredas e outros quase que encavalitados nas bermas da rocha, deixando um longo e assustador precipício para quem o construiu ou para quem se aventura a percorre-lo anos mais tarde.
São, enfim, cerca de 1400 km de aquedutos em apenas 737 km2 de ilha.
Resumindo, as levadas são parte do património cultural da Madeira e, nessa medida, não estranha que cada vez mais visitantes, e os próprios habitantes, as queiram percorrer e, assim, descobrir todos os encantos da ilha, indo, literalmente, ao seu mais profundo interior.


Retomando o percurso Rabaçal – 25 Fontes, relembro que havia escrito que aqui o caminho é efectuado junto a uma levada e que este nem sempre era fácil. Isto porque grande parte do percurso tem de ser realizado quase que empoleirado na levada, uma vez que nem sempre resta muito espaço entre a dita e o fim da rocha. Daí que muitos guias não aconselhem este passeio a pessoas com vertigens. Não creio, todavia, que esta situação deva ser desmobilizadora, uma vez que os caminhos estão bem conservados e protegidos.
O percurso em si tem todos os ingredientes para fazer desta jornada inesquecível. Enquanto percorremos os estreitos caminhos onde outrora corajosos madeirenses se empoleiraram para levar o bem essencial água aos seus conterrâneos, rodeados de um manto tão verde quanto o possamos imaginar e sob uma vegetação intensa de loureiros e urzes, é impossível não irmos parando para contemplar toda esta beleza. Daí que os 2,5 km não sejam facilmente contabilizáveis em minutos, dependendo não só da passada de cada um mas também do seu grau de deslumbre ante a paisagem o menor ou maior tempo em alcançar o fim do percurso – uma lagoa para onde escorrem as águas das 25 nascentes que se localizam nas rochas nas suas imediações.


O local ideal para, depois de sentir o “gelo” da água nas nossas mãos, descansar sentada numa das rochas e abrir finalmente o farnel enquanto escutamos o barulho da água a cair. Único senão da conclusão desta aventura? O facto de não podermos saborear esta calmaria sozinhos, mas antes com a multidão de caminhantes que compartilhou o destino connosco. Pensando bem, para que são necessários os portugueses do continente por aqui?

Pelos Caminhos da Madeira

Tirando a casa das Mudas e a Piscinas das Salinas, o que mais queria da visita à Madeira era percorrer a pé as suas levadas e veredas. À partida de Lisboa levava algumas ideias de itinerários a percorrer. Lá chegada, e depois de comprar o guia mais popular da região “Levadas e Veredas da Madeira”, de Raimundo Quintal, realizei que irei necessitar de muitas viagens anuais à Madeira até conseguir percorrer todos os percursos lindos que sinto que devo e mereço fazer.
Dada a escassez de tempo da nossa curta viagem, difícil seria fugir às mais populares e, por isso, previsíveis caminhadas.
E quais são elas?
A do Rabaçal – Risco – 25 Fontes; a do Ribeiro Frio – Balcões; e a do Pico do Areeiro – Pico Ruivo.
Disse que estes percursos são populares. Sim, é verdade, mas só entre os estrangeiros e os madeirenses. Porque ouvir falar português com sotaque cubano durante estas caminhadas foi coisa que esteve ausente, daí que se respire como que um sentimento de ser estrangeiro enquanto se pisa território português.

sexta-feira, maio 18, 2007

Nova Arquitectura Madeirense

Saindo do Funchal temos uma ilha exuberante no que à natureza diz respeito e, surpreendentemente, encontramos algumas interessantes intervenções arquitectónicas desenvolvidas nos últimos anos e que têm merecido elogios no Continente e não só.

Uma das mais voga é o Centro das Artes Casa das Mudas, na Calheta, da autoria do arquitecto Paulo David. Construído em 2004, desde aí tem ganho diversas distinções de arquitectura, quer nacionais quer internacionais, tendo sido mesmo nomeado para o prémio europeu de arquitectura contemporânea Mies van der Rohe. Não é para menos. Quando se fala e vê a obra, in loco ou através de fotografias, não nos atemos apenas ao seu edifício e suas linhas. Decisiva é a sua localização, no topo de uma falésia que, quando vista cá debaixo, desde a praia da Calheta, parece confundir-se com a dita falésia, como um corpo que a acompanha e dela sempre fez parte. Para essa ilusão muito contribui a sua textura basáltica, a mesma que a das rochas que a circundam, numa plena integração entre a natureza e o homem. Outra originalidade do edifício é a forma como foi construído, de cima para baixo, obrigando-nos a confrontar em primeira linha com o seu tecto (provavelmente inspirado nas muitas casas que vamos encontrando à beira da estrada pela ilha fora e nas quais o acesso é feito através do seu piso superior, normalmente destinado a garagem ou simples terraço), o qual nos oferece a imagem de um jardim cujos caminhos podem ser percorridos.



Descendo aos pisos inferiores, o da cafetaria, auditório, loja e entrada no centro de exposições a cor dura do basalto continua a cercar-nos. No interior do edifício, todavia, as suas salas são profusamente rasgadas pelas janelas que insistem em nos devolver ao profundo azul do Atlântico e ao imenso verde da Ilha. Pena a proibição de se tirar fotografias no seu interior. A propósito de fotografias, uma desilusão. Não concebo ir a um local e não desatar a disparar no gatilho, para mais tarde recordar. À chegada, e face aos chuviscos que caiam, decidi adiar as fotos para quando acabasse a visita, uma vez que pior tempo seria difícil ficar. Que tristeza quando me deparei com o pensamento mais falhado que podia ter. Os chuviscos passaram a senhores pingos e deixou de se ver a um palmo do nariz.




Relativamente à oferta cultural, aqui há uns anos questionar-se-ia o porquê da criação de um centro de exposições fora do Funchal, a única verdadeira cidade da ilha. Ainda para mais, aqui há uns anos a Calheta ficava a 1 hora ou mais daquele núcleo urbano. Todavia, hoje a Calheta, e o seu Centro de Artes, estão a no máximo 30 minutos do Funchal, mais coisa menos coisa o tempo que demoro a chegar de minha casa, na zona oriental de Lisboa (se tiver a felicidade de não apanhar trânsito), ao Centro Cultural de Belém, bem no outro lado da capital. Ainda assim, vozes há que questionam esta, para mim, inquestionável mais valia para qualquer povoação. Falando mais claro, não é necessário quedarmo-nos pelo Funchal para encontrarmos uma interessante oferta cultural que, apesar da grande ajuda que é receber algumas das obras da Colecção Berardo, não se limita aos favores do seu conterrâneo. Na altura que visitamos o Centro das Artes tivemos o privilégio de encontrarmos exposta uma ampla colecção do surrealismo português – Cesariny, Cruzeiro Seixas e outros que tais em abundância de quantidade e qualidade – “O Surrealismo na Colecção Fundação Cupertino de Miranda”. Igualmente, “Tudo Que Não Seja Eu”, de Kimiko Yoshida, as estranhas transformações em diversas personagens de uma japonesa, quer em noiva, em índia, em Rato Mickey, enfim, tudo o que a sua (dela) imaginação permite. Na Galeria das Mudas, o núcleo que primitivamente servia como Casa da Cultura, encontravam-se expostas umas litografias de Paulo Rego.



Outra das obras mais emblemáticas desta “nova arquitectura madeirense”, curiosamente também da autoria de Paulo David, é a “Piscinas das Salinas”, por vezes também referida como “Piscinas do Atlântico”. Esta intervenção teve lugar precisamente na zona das Salinas, em Câmara de Lobos, um dos locais historicamente mais problemáticos da ilha pela pobreza em que vivem os seus habitantes. Quando descemos na sua praça central, junto ao mercado e baia, somos imediatamente confrontados com inúmeros meninos, com look à Cristiano Ronaldo, esticando-nos a mão. Recusada a moedinha vão por ali fora, tão contentes como quando se aproximaram, deixando-nos a dúvida se este gesto não será já uma instituição a preservar e não tanto uma necessidade a prover.



Voltando à intervenção arquitectónica efectuada na zona das salinas, numa primeira fase foi criado o passeio público que ligasse a baia de Câmara de Lobos à Foz da Ribeira dos Socorridos, uns metros além donde se encontram as piscinas naturais das Salinas. Foi partindo destas já existentes piscinas que o arquitecto criou outras duas (uma maior para adultos e uma pequenita para as criancinhas), com acesso directo ao mar, utilizando novamente o basalto nas paredes que servem os equipamentos anexos às piscinas (vestiários), daí resultando uma vez mais uma plena integração na paisagem, nomeadamente no terreno rochoso que as ladeia. Este complexo balnear abriu o ano passado mas, lamentavelmente, parece ter muitos mais anos de uso, tal era o estado de abandono que parecia padecer (bem sei que os equipamentos quando estão encerrados e sem qualquer vestígio de vida – o que era o caso – nos dão umas impressões que podem não corresponder à realidade, mas não sei não…). O certo é que, pelo menos em termos estéticos, não há de haver muitos complexos balneares que possam bater este. Mas a intervenção que teve lugar por aqui não se cinge ao referido passeio público (a estender ainda mais até à Praia Formosa no concelho vizinho do Funchal) e às piscinas. Foram, igualmente, criados um bar com esplanada, um restaurante e, nas suas traseiras, um parque infantil com um jardim que remete directamente para o imaginário da ilha pela abundância de bananeiras que aqui foram plantadas.



Do lado contrário da baia de Câmara de Lobos, ou seja, para o seu lado direito olhando para o mar, uma outra intervenção se encontra ainda em curso, da autoria do atelier Massa Cinzenta, procedendo à requalificação da Praça da República, zona central de Câmara de Lobos, e sua praia. Esta praça possuía uns edifícios bastantes degradados e com esta intervenção tornou-se um espaço revitalizado, virado para o lazer e exclusivamente pedonal, funcionando como um miradouro, tirando assim partido da sua localização privilegiada debruçada sobre o Atlântico.
Na mesma praça, junto à igreja, foi criado um edifício plenamente integrado na paisagem natural e urbana (jogando uma vez mais com as cores do basalto e o branco, típicas na ilha), destinado a comércio e a alguns serviços camarários.



Um pouco mais adiante mas num nível inferior, mais junto à praia, cujo acesso é efectuado pela escadaria ou elevador da torre que serve de estacionamento subterrâneo, irá surgir um novo restaurante e esplanada, uma reconstrução de um anterior equipamento que aí existia.

Uma outra obra digna de elogios, não muito longe daqui, diz respeito ao Centro Cívico do Estreito de Câmara de Lobos, mesmo de frente para o Largo da Igreja. Inspirado na paisagem vinícola típica desta zona, as réguas de pinho utilizadas no coberto do exterior do edifício remetem-nos precisamente para a imagem dos prumos da madeira e do arame das latadas. Uma arquitectura muito interessante e um equipamento bem útil para a localidade, uma vez que para além do café instalado no piso ao nível da estrada, existe ainda um auditório e um piso destinado a exposições e biblioteca.

Para concluir, uma informação adicional: as obras referidas surgiram, todas elas, por iniciativa das Sociedades de Desenvolvimento que tutelam as respectivas áreas geográficas. Ou seja, por iniciativa de uma instituição de capital público, ainda que as intervenções possam vir a ser desenvolvidas exclusivamente pelos privados. Deu para entender? Mais ou menos? Bom, o que interessa é que fora Lisboa e Porto (e nem estes se escapam muitas vezes) as intervenções ao nível da requalificação do espaços ou da criação de equipamentos com interesse para as respectivas populações depende quase a 100% da iniciativa pública. Por que é que na Madeira haveria de ser diferente?

terça-feira, maio 15, 2007

Jardins e Quintas do Funchal

Ir à Madeira e não sair do Funchal ou, sequer, de um dos seus hotéis é passar ao lado daquilo a que facilmente chamamos viagem de sonho quando pensamos em paisagens deslumbrantes e irreais.
Não que de vez em quando não mereçamos apenas descansar, relaxando entre um banho na piscina, uma esticada numa espreguiçadeira sob um sol ameno e um mergulho no mar de água calma e morna deste Atlântico. Mas perder a beleza natural e por vezes imaculada que a Ilha nos tem para oferecer para além do cenário de presépio acesso durante a noite da sua capital é imperdoável.
Comecemos, todavia, pelo Funchal e seus hotéis.
Foi neste último ponto que surgiu uma das raras desavenças com que as manas se deparam em viagem. Eu gostaria de ficar alojada numa das Quintas http://www.quintas-madeira.com/madeira/quintas/default.asp?Site_Lang=pt de que o Funchal dispõe para quem gosta de se manter um pouco à margem do turismo de massas, num ambiente único e por vezes exclusivo, mas sempre confortável e dispondo de todas as facilidades e mimos de que se gosta de não prescindir quando estamos fora de casa (e que adoraríamos ter ao longo do ano de trabalho). Já tinha até o poiso escolhido – a Quinta da Casa Branca, prémio de arquitectura do Funchal em 1999. A questão que se colocava era: valeria a pena gastar $ e mais $ em algo que só nos serviria para passar a noite? A racionalidade ganhou e o sonho ficou adiado para, quem sabe, quando for velhota e escolher o Funchal, a piscina e a espreguiçadeira em exclusividade para a uma futura viagem à Madeira. Assim, ficámo-nos pelo Hotel Vila Ramos, ali bem perto, mas desde a sua varanda tivemos direito a uma vista do nascer do sol junto à Ponta do Garajau de deixar qualquer um logo bem disposto pela manhãzinha.


Voltando às quintas, se algumas destas foram aproveitadas, ou melhor, transformadas em hotéis, outras há que se mantém ainda como espaços públicos, acompanhadas do respectivo jardim.
Curiosamente, a primeira Quinta / Jardim que nos calhou em sorte visitar logo após ter-mos deixado as malinhas no hotel foi a Quinta da Magnólia, bem perto do Estádio dos Barreiros. E digo curiosamente porque foi, uma vez mais, voltar a um local onde já havíamos estado há uns quantos anos e que se encontrava bem presente na memória. No fim da década de 80 a Quinta da Magnólia recebeu o Meeting do Funchal de Natação e a piscina de 25 metros sem linhas direitas tinha que ser adaptada para o efeito. Inesquecível a bancada que montaram num estreito topo da piscina e que, graças às tais linhas que não eram (são) direitas permitia que passássemos por baixo dela a nadar e por lá ficássemos num cantinho exíguo com o público por cima de nós. Para além da piscina, que parece ter os dias contados por força de uma futura e já prevista remodelação na Quinta, temos ainda o seu edifício principal, onde está hoje instalada a Protecção Civil, uns courts de ténis e um jardim amplo e acolhedor com árvores centenárias. É aqui que costuma decorrer o Funchal Jazz.


Que a Madeira é um Jardim já toda a gente o sabe. Que o Funchal possui uma mão cheia deles, bem cuidados e refrescantes, cheios de plantas e flores lindíssimas, daquelas que costumamos associar à ilha, isso ficamos todos nós a saber após uma breve caminhada pela cidade. Breve mas não fácil, uma vez que as inúmeras e insistentes ladeiras teimam em nos deixar ofegantes.
Precisamente após uma boa caminhada sempre a subir iniciada junto à Câmara Municipal do Funchal (numa praça bonita e interessante, ou não estivessem aí instalados também o Museu de Arte Sacra e a Igreja do Colégio dos Jesuítas) e passando a loja da Fátima Lopes e a Igreja de São Pedro, chegamos à Casa Museu Frederico de Freitas. A Casa Museu é paga mas o acesso ao seu pequeno jardim (bem como às exposições temporárias) é livre. A não perder este recanto de bom gosto.
Continuando a nossa subida, uma breve paragem para abrigo da chuvada, que entretanto caiu, na Casa de Chá do Museu Universos de Memórias, cujo espólio adquirido durante as suas viagens pelo mundo fora foi doado por João Carlos Abreu, o eterno Secretário Regional do Turismo e Cultura (extra! extra! ex-secretário regional, uma vez que em consequência das recentes eleições na ilha, parece que finalmente este “dinossauro” do governo regional saiu da cena governativa).


Um pouco mais acima, mas do lado contrário, a Quinta das Cruzes aguarda pela nossa visita. Há quem defenda que aqui moraram João Gonçalves Zarco e os seus sucessores Capitães Donatários, mas o certo é que na década de 50 do século passado a sua casa foi adaptada para museu, expondo artes decorativas, e o acesso ao seu jardim –livre – devia constar do manual obrigatório de todo aquele que se dirige à ilha. Aqui existe uma vasta e diversificada presença de plantas endémicas, algumas delas exuberantes, incluindo um grande número de orquídeas. Para além disso, no meio do jardim deparamo-nos com umas janelas manuelinas e outras esculturas arqueológicas.
Como não nos tinha bastado toda esta subida e não tínhamos arfado o suficiente, fomos mais além, até à Fortaleza do Pico onde se obtém um visual esmagador da cidade do Funchal.


Bem mais acima, mas do lado contrário da cidade, outro visual a não perder – o do Monte, a cerca de 550 m. Segundo o Wikipedia, o Monte foi considerado pela Revista Forbes de Maio de 1978 como a mais bonita freguesia do mundo. Seja ou não correcta esta informação, certo é que o Monte é também conhecido como a Sintra da Madeira.
A forma mais pitoresca de aqui chegarmos é através do teleférico que sai cá debaixo, desde a cidade velha, oferecendo-nos vistas fantásticas de toda a cidade. E, claro, a forma mais provável e turística de dali sairmos é descendo pelos carrinhos de cesto, guiados por 2 profissionais carreiros empoleirados nas traseiras do “veículo”, num percurso de cerca de 2 km. Sempre adiada nas anteriores passagens pela ilha, esta revelou-se uma boa experiência, com a descoberta do Atlântico sempre ao virar de cada curva e ao fundo das intermináveis ladeiras. Actualmente, para fazer face à canseira dos carreiros, a viagem acaba no Livramento, o que corresponde a cerca de metade do que era realizado anteriormente até ao centro do Funchal. Depois é só continuar a descer pelas nossas perninhas novamente até junto ao mar.


Voltando, no entanto, um pouco atrás, o Monte é dos locais mais aprazíveis para se viver e visitar. Confirmando o afirmado, quintas, mansões e turistas é o que não falta por aqui.
A Igreja de Nossa Senhora do Monte é, provavelmente, o postal mais conhecido desta zona, com o seu edifício branco e a escadaria cinzenta a contrastar com o abundante verde que a circunda e o azul do céu (quando não está nublado) e do mar.


Voltando aos jardins, no Monte ficam outros dois sempre destacados em qualquer reportagem mas que não visitamos: os Jardins do Imperador (Carlos da Áustria, que aqui residiu e faleceu) e o Jardim Tropical Monte Palace (do “mecenas” Joe Berardo, que fez questão de “oferecer” aos seus conterrâneos uma colecção de plantas dos 4 cantos do mundo, incluindo uns estranhos pagodes).

Concluindo esta breve tour pelo Funchal, vale a pena ainda uma visita a outros 3 símbolos da cidade: o Jardim Botânico, que por falta de tempo não visitamos, não sem lamentos; o Parque de Santa Catarina, talvez o mais popular e acessível; e o Mercado dos Lavradores – este último merece obrigatoriamente uma parada. O seu edifício da época do Estado Novo, em Art Déco, com painéis de azulejos na entrada, é comparável ao interesse que o movimento do seu interior nos mostra. A azáfama dos comerciantes de peixe, legumes, fruta, bordados, flores, objectos em vime, caramelos de funcho e todos os demais produtos típicos da ilha servirá para accionarmos todos os nossos sentidos e daqui escolhermos uma recordação para alguém que gostaríamos que tivesse a mesma oportunidade de viver toda esta alegria e colorido.